quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Que dor é essa?




Tenho visto, ouvido e lido muitos relatos de mulheres que defendem a cesárea porque não desejam sentir dor. Mas que dor é essa. De que dores falam essas mulheres que fogem de um processo fisiológico e optam por uma cirurgia de grande porte. Na história do nascimento através dos tempos, muitas dores foram relatadas. Mas como podemos avaliar uma dor que ainda não sentimos? Pergunto novamente, que dor é essa? Temos uma cultura de aplacar a dor a qualquer preço. Desde o nascimento, o ser humano é teoricamente afastado da dor. Se os bebês têm cólicas, as mães lhes dão gotinhas. Se os dentes estão nascendo, abusam de analgésicos. E assim por diante. Vamos em frente fazendo de conta que a dor é má, e que ela não existe. Será mesmo que a dor é ruim? Acredito firmemente que não. A dor de uma forma geral existe para nos avisar de que algo em nosso corpo não está funcionando bem, ou que nós não estamos nos cuidando como deveríamos. O processo fisiológico do parto vem acompanhado de um alarme, e esse alarme é a dor. Ela existe pra nos avisar que o trabalho de parto está começando. Pensemos num processo de expansão de nosso corpo. Nosso corpo se abre para esse novo ser que vem ao mundo. Será que realmente é melhor passarmos por um processo frio e rápido, com hora marcada, onde nos é tirado o direito de sentir o nascimento de nosso bebê. Eu acredito que não. A cesárea foi criada para ser usada quando por um motivo muito sério, mãe ou bebê estão em risco, o que acontece muito raramente na realidade. Pensemos num processo que vem devagarzinho, suavemente. Nosso corpo vai sentindo as ondas do processo do nascimento.  Vai se adaptando e se abrindo para aquele novo ser, para aquela nova mulher. Por que com certeza o nascimento fisiológico nos faz nascer também como novas mulheres. É um processo intenso, profundo.  E se estivermos conscientes do nosso corpo, podemos adaptar-nos e aceitar essas ondas que nos envolvem. Penso que vale a pena experimentar esse processo forte, doce e pleno. Eu experimentei os dois processos e posso garantir que gostei mais de sentir a “dor do parto”. Ela me fez mais forte. A cesárea doeu em meu corpo e em minha alma. Hoje, 21 anos passados, acho que posso dizer que a exorcizei depois de parir mais três vezes, e de assistir a tantos nascimentos lindos e de ver a transformação de tantas mulheres. 



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