sexta-feira, 22 de abril de 2011

Relato do parto da Lílian e o do Lucas, nascimento do Caetano


 


Meu filho Caetano completa essa semana sete meses e, para ser sincera, ainda não sei se sou capaz de fazer um relato do seu nascimento. O engraçado é que ler relatos de parto foi meu maior vício durante a gravidez. Eu sonhava com o momento em que poderia fazer o meu. Mas agora, não sei...
Qualquer evento em nossas vidas pode ser reduzido a informações técnicas. Quer um exemplo? Meu casamento aconteceu no dia 20 de maio. Compareceram à festa umas 200 pessoas. A festa durou umas 5 horas. Quer mais exemplos? Minha primeira filha, Manuela, nasceu de uma cesárea “de emergência” (?). Saudável, pesou 3,760kg. Foram 39 semanas e meia de gestação. Ou, que tal: o trabalho de parto no nascimento de Caetano durou mais de 16 horas. 40 semanas e 3 dias de gestação. O bebê pesou 3,740kg.
Estes três eventos foram os mais emocionantes da minha vida. Mas como eu posso descrevê-los? Como a gente explica o quanto ficou ansiosa, feliz, preocupada ou cansada em momentos tão íntimos? Como eu posso explicar para alguém o que é parir? Só não desisto de falar porque, sinceramente, foi ver que mulheres de carne e osso, assim como eu, descreveram seus partos, me emocionaram e me incentivaram a buscar uma forma mais humana de trazer um filho ao mundo.
Tive o Caetano em casa em nome de nossa família: pelo meu marido Lucas, para que ele pudesse estar o mais próximo possível de nós; pela Manu, como forma de redenção por ter me informado tão pouco durante sua gestação; pelo Caetano, que chegou ao mundo da maneira mais confortável e aconchegante que pode existir; e, principalmente, por mim. Sim, por mim. Porque o parto é um momento de autoconhecimento e de um contato transcendental com o Universo. Eu fui passagem para vida! Fui portal vivo. Que experiência intensa!
Na noite anterior ao parto eu, já cansada e extremamente ansiosa, tive uma “conversa séria” com o bebê. Pedi para que o Lucas ficasse com a Manuela e fui pro quarto. Respirando muito fundo disse pro Caetano que se ele quisesse vir, eu estaria preparada. Afinal, a gente já tinha feito tudo que nos competia. Ele já estava encaixado e maduro. Eu já tinha tudo organizado: lençóis e toalhas lavados, passados e separados para serem usados no nascimento, geladeira lotada de sucos, frutas e chocolate, câmera fotográfica carregada, tudo, tudo ajeitadinho. E o tédio da espera me corroendo. Por isso, eu gostaria muito que ele viesse logo. Sabe Deus como, mas o Caetaninho me ouviu.
Durante a noite as contrações começaram, bem de leve. Vinham como ondas, ou melhor, marolinhas deliciosas. Mas como eu já tivera uns três ou quatro alarmes falsos fiquei com medo de me animar e fui dormir.
No dia 09/09 acordei com as contrações mais compassadas. Não eram dolorosas, mas exigiam (ou mereciam) um pouquinho mais de atenção. Uma respiraçãozinha profunda e se iam... Fiquei tão feliz que resolvi ligar logo cedo para Cris, uma das minhas doulas. Ela chegou por volta das 09:00hrs. Eu estava na banheira tomando banho com a Manu. Telefonei para minha mãe puxando um assunto besta só para ter a certeza de que ela não voltaria a me telefonar naquele dia. Ela sabia que o parto seria em casa, mas disse que não teria condições emocionais de acompanhar tudo. Por isso eu não avisei nada.
A Cris sugeriu uma volta na pracinha, atrás de casa. Fomos com a Manu, que ficou brincando no parquinho, e com o Lucas. Quando vinham as contrações, eu me agachava e respirava fundo. Depois levantava e continuava andando.
Então voltamos para casa. O Lucas dispensou a Isaura, nossa ajudante, e levou a Manu para casa da nossa madrinha. Embora ele não tenha contado do início do trabalho de parto, a Madrinha sabia que seria melhor não fazer muitas perguntas.
De volta em casa, ele já encontrou a Rô (minha outra doula, grávida de dois meses) e a Cris, me fazendo massagem, sentada numa bola suíça. Essas meninas foram de ouro! Como foi importante o trabalho psicológico de autoconhecimento que elas desenvolveram com a gente durante a gestação! Elas foram parte essencial no nosso processo de empoderamento. Não sei como agradecer...
Por volta do meio-dia chegaram a Jamile (enfermeira obstetra) e a Camila (auxiliar). Que legal foi encontrar com elas! Que bom o Caetano ter sido recebido por pessoas tão boas, que acreditam tanto na vida, no amor, no nascimento... Nem acredito que conheci estas quatro quase que ao acaso, procurando na internet a combinação das palavras “parto humanizado Araraquara”.
Pelas doulas eu cheguei ao grupo de apoio à maternidade e, pelo grupo, conheci outras mulheres que, mesmo depois de uma cesárea, tinham conseguido parir em casa. Chorei no dia em que eu descobri que seria possível sonhar com um parto num local tranqüilo, cheio de amor, como sempre é a casa da gente.
Depois do almoço, as meninas montaram a banheira no meu quarto. Nossa! Foi tão bom! Uma das tardes mais românticas que eu tive com o Lucas. Nós lá na banheira, rindo, conversando... As meninas vinham no quarto de vez em quando trazendo fruta, chocolate ou água. A Jamile vinha auscultar o bebê... Relaxei tanto que o trabalho de parto quase parou. As contrações ficaram espaçadas e a Jamile sugeriu que a gente saísse da banheira.
Então eu deitei e dormi. Durante o sono fui massageada (pela Jamile ou pela Camila?) e até sonhei...
Até voltei um pouquinho para banheira porque fora dela as contrações ficavam mesmo mais fortes, mas foi por pouco tempo. As meninas se comunicaram sem que eu visse e armaram um plano para me manter longe da banheira o maior tempo possível até o nascimento. O engraçado é que elas são tão discretas e cuidadosas que eu nem percebi...
Aí eu passei a ficar sentada, ora na bola, ora na cadeira de parto, ora no vaso.
Elas prepararam um macarrãozinho para o jantar que estava delicioso! Na verdade, elas me alimentaram o tempo todo com pequenas porçõezinhas para que eu me mantivesse com bastante energia.
Mesmo assim, fui ficando cansada porque não tinha nem sinal do Caetano. A bolsa não rompia, não saía o tampão e o que mais me impressionava: o pezinho dele ainda estava encostado nas minhas costelas. Começou a bater um desesperozinho ver que a coisa ia longe.
Já devia ser mais de meia-noite quando eu olhei para o Lucas e disse: “Amor, será que está tudo bem? O Caetano não nasce... A dor está aumentando e eu não sei mais o que fazer para ajudar no parto...”. O Lucas fez uma cara de quem não sabia o que responder, me abraçou falando que estava tudo bem e discretamente saiu do banheiro. Na verdade, na hora eu nem percebi que isso poderia ter deixado ele inseguro. Só depois eu soube que ele ficou transtornado com o meu pedido, pois sabia o quanto seria frustrante uma transferência. Ele foi para cozinha e a Rô e a Cris, tentando acalmá-lo, recomendaram que ele bebesse alguma coisa. Ele levou a sério: abriu uma garrafa de vinho e tomou metade. Ahahaha! Não preciso nem falar que quando ele voltou para o banheiro só me atrapalhou. Aí eu é que pedi para ele dar uma voltinha, que eu ficaria bem com as meninas.
Foi então que a Jamile foi preciosa. Ela mediu a freqüência cardíaca do Caetano e viu que estava tudo bem. Então ela disse: “Lilian, olha bem para mim. Todo mundo tem o seu limite. Você acha que chegou no seu? Você quer mesmo ir para o hospital?”. Foi só então que eu me dei conta da bobagem que eu estava dizendo e que se não parasse com essa conversinha de “não sei se eu vou conseguir” eles iriam mesmo me levar para o hospital. Então eu respondi: “Não, Jamile, eu estou bem. Só fico falando isso de ir para o hospital quando vêm as contrações. Mas, pelamordeDeus, me deixa ir para banheira”. Elas até quiseram me dissuadir, mas sem o Lucas por perto, só a água poderia me aliviar. Entrei na água ainda fria e elas ficaram quase loucas para aquecê-la. O Lucas não voltava, as contrações apertando, cada vez mais fortes e menos intervaladas. Comecei a gritar.
Novamente, Santa Jamile entra em cena. Muito calma, ela me pediu para parar de gritar, que isso não estava ajudando o Caetano e que eu precisava me concentrar.
Meu Deus, dito e feito! Parece que no momento que eu calei toda minha energia passou a se concentrar no meu ventre e a força que eu senti vontade de fazer foi tão intensa que o Caetano nasceu num tiro, dentro da bolsa d’água, que rompeu naquele instante.
É incrível como aquele menino brilhava!
Quando elas colocaram ele no meu colo, ele já veio com aqueles olhos enormes, curiosos, me procurando, tentando entender o que estava acontecendo... O Lucas me beijava e chorava. E eu pensava: “Meu Deus, mas não é que saiu mesmo uma criança de dentro de mim? Mais uma! Mas essa eu senti saindo! Assim, pronta!”. Quando eu conto isso tem gente que ri, que pergunta o que eu esperava. É claro que eu esperava o Caetano, mas nem por isso fico menos perplexa com a vida, com a perfeição da vida.
Só não posso deixar de mencionar a presença de mais duas pessoas que estavam no quarto quando o Caetano nasceu: meu vô Militão e minha vó Rosa. Em espírito, é claro. Mas foram eles que me deram o toque de que parir em casa, abraçada com o marido, era a melhor coisa que eu poderia fazer na vida. Valeu Vô! Valeu Vó!
Obrigada à Jamile, à Camila (menina, o que você tem de discreta, tem de anjo!), à Cris (que até rezou comigo!) e à Rô (obrigada pela mão amiga).
Obrigada ao Lucas, que, é claro, voltou ao quarto na horinha H. 
Obrigada à Manu, que não agüenta mais ouvir esse relato (filha, desculpa não ter tido informação suficiente para te proporcionar um nascimento assim. Juro que na próxima encarnação vai ser diferente. Você sabe que se eu pudesse você voltava pra dentro de mim para nascer de novo, mas não dá. Por outro lado, eu te prometo que se você um dia resolver dar a luz em casa, juro que vou estar lá para segurar sua mão, combinado?)
Obrigada ao Caetano. Eu sempre digo que mais do que eu querer dar a luz em casa, ele quis nascer assim. Ficou o tempo todo calminho, com a freqüência cardíaca ótima, chegando ao mundo todo feliz, como ele tem se mantido todos os dias. Ô bebê feliz!
Obrigada aos meus pais e aos meus sogros. Sei o quanto vocês estavam aflitos, mas souberam respeitar nossas escolhas.
A vida é mesmo um presente. Fiquei feliz de ter sido protagonista de um momento tão lindo. Mas palavra nenhuma no mundo vai ser capaz de traduzir toda a energia que existe no momento de dar a luz. Não tem preço que se pague, não tem dor que justifique a covardia de não querer parir. Aliás, eu já disse que não sei descrever se doeu? Deve ter doído, né? Dizem que dói... Vai saber...
 

2 comentários:

Lucas Lima disse...

Obrigado, Lilian, meu amor, pela oportunidade de ver meu filho nascer em casa. Te amo!

Cláudia Rodrigues disse...

Lindo Lilian, lindo! Obrigada por compartilhar.