quarta-feira, 30 de maio de 2012

O tempo de Deus, o tempo de três bebês, a história de três mulheres.

Na minha trajetória como doula, aconteceram coisas maravilhosas e muitas histórias de vida que eu poderia contar todos os dias. Mas hoje vou contar um pouco das histórias difíceis que fizeram parte do meu crescimento como doula, como mulher, como ser humano. Minha eterna gratidão e admiração a todas as mães que me incluíram em seus momentos. Eu poderia citar os nomes desses três bebês, e os nomes de suas mães, mas isso não seria tão primordial como foi história de cada um deles.

 O primeiro deles, aconteceu em minha vida numa quinta-feira, 20/10/2011. Estava em minha casa quando o pai veio me buscar, pois ele nasceria naquele dia, mesmo que ainda não fosse tempo. Fomos até o hospital, e as contrações de sua mãe já estavam fortes. Esse pequeno lutador não esperou muito, e apenas umas duas horas depois de minha chegada, ele nasceu. Lindo, forte, rosado, mas sua idade gestacional ainda era pouca, e ele foi levado para a UTI. Foram dezenove dias de muitas batalhas e muita ansiedade, até que finalmente, como diria sua mãe, "o pacotinho" lhe foi entregue e ela pode curtir o seu bebê, cuidar, acalentar e amamentar. Hoje já se vão 7 meses, e esse precioso menino cresce e se desenvolve com tranquilidade. Sua mãe ainda o amamenta e sou muito grata por ter podido fazer parte de seu desenvolvimento.

 O segundo, veio ao grupo ainda em forma de desejo. Sua mãe e seu pai o carregavam no coração, mas ele anda não havia sido concebido. Depois de alguns encontros, vieram anunciar a tão esperada gestação. Era uma gestação de risco, mas eles desejavam demais aquele filho. Foi um período de espera e de preocupações, e mais uma vez esse bebê também teve pressa. No dia 03/01/2012, a placenta de sua mãe descolou, ele ainda estava com 27 semanas, e teve que vir ao mundo por uma cesárea de emergência. Nascia naquele dia, o mais forte desejo daquele casal, e uma prova de fé e de persistência, que marcou para sempre a minha vida. Esse pequeno, ficou na UTI por mais de dois meses, seus pais o visitaram e o acalentaram todos os dias, e vitoriosamente o levaram para casa. Na semana passada, ele foi batizado, e eu estava lá. Foi uma imensa alegria que pude partilhar com sua família, e foi um presente receber a visita deles no aniversário do Grupo de Apoio.

E ainda tem uma menininha. Eu não fiz parte da história dessa gestação. Apenas sabia que eram duas meninas que cresciam na barriga da mãe. A avó não se cansava de me dizer como estava feliz pela chagada das netas. Então numa noite, não me lembro exatamente o dia, ela me ligou dizendo que as meninas haviam nascido. Eram pequenas, prematuras, e uma delas pesava pouco mais de 800g. Fiquei ali por um momento, desejando que elas fossem fortes. Mas quis o destino que a maior delas fosse levada ainda com poucos dias. Foi nesse contexto que fui apresentada a mãe da pequena guerreira. Ela desejava muito amamentar a filha. Tinha uma luz em seus olhos, e uma dor imensa pela perda sentida. Veio até mim com o coração machucado e com os seios vertendo muito leite. Foram dias de ordenha, conversas... Confesso que também para mim, de muitas lágrimas que escondi dessa mãe. Aos poucos sua guerreira foi estabilizando, fomos conseguindo manter o leite. A mãe virou uma incentivadora do aleitamento para todas as mães que a buscassem na UTI. Um sábado a noite o meu celular toca, eu vejo que é a mãe da pequena guerreira e meu coração fica cheio de ansiedade, mas a voz dela, cheia de alegria me acalma: - Cris, ela tomou o meu leite! Vocês não podem entender jamais o que senti naquela hora. Apenas uma pouco de leite da mãe, ainda na sonda, mas que significava um mundo para nós. E neste último sábado, a avó me procurou dando a notícia de que pela primeira vez, a pequena guerreira tinha sugado os seios de sua mãe.Fica aqui a mensagem que recebi de sua mãe ao perguntar o que tinha sentido ao poder finalmente amamentar a filha: "foi maravilhoso, uma sensação de que tudo vai bem e que o esforço não foi em vão. Eu tenho que agradecer. Você me ajudou no grande sonho de minha vida".

 Fica aqui, para cada um de nós o sentimento de que o tempo de Deus é bem diferente do nosso, e de que os sonhos, por menores que pareçam para quem olha de fora, podem ser os maiores da vida de alguém. Obrigada, Milena, Andréia e Fabiana, mães fortes e guerreiras que fizeram de suas dificuldades uma lição para mim.Vocês moram em meu coração e em minhas orações para sempre.


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