quinta-feira, 13 de março de 2014

Relato do parto da Camila: nascimento da Sarah, (PN hospitalar) e nascimento do Thomaz (domiciliar/planoB)




Minha história como mãe começou aos dezesseis anos quando me vi grávida da minha primeira filha, uma das primeiras sensações que me invadiu foi o medo, medo do desconhecido, principalmente em relação ao parto, uma vez que aquele bebê estava ali dentro teria que sair de alguma forma. A gravidez e o nascimento em si não eram tão desconhecidos, uma vez que havia acompanhado minha mãe durante a gestação e nascimento de minhas três irmãs mais novas, e graças a isso para mim era certo que minha filha nasceria de parto normal, tinha muito medo da cesárea e pra mim racionalmente o parto normal era o mais óbvio e seguro para mim e meu bebê.
E assim foi. Uns 15 dias antes de a Sarah nascer eu sentia muito peso e dores na lombar, já sentia algumas contrações e minha mãe disse que seria bom caminhar e ficar de cócoras, isso me fortaleceria e prepararia para o trabalho de parto, e assim eu fiz.  Caminhava bastante e andava de cócoras, quando a dor na lombar estava muito forte minha mãe e minha irmã mais nova faziam massagens para ajudar a aliviar.
Na noite de 31 de janeiro de 2006 comecei a perder o tampão, só descobri o que era quando chamei minha mãe no banheiro, e ela disse que era provável que meu trabalho de parto começasse em breve. Na manhã seguinte quando fui ao banheiro havia mais tampão, tomei um leite com chocolate e minha mãe achou melhor irmos até a maternidade para vermos como estavam as coisas.
Chegamos à maternidade umas nove horas da manhã eu acho, fui submetida ao exame de toque para avaliação, e foi péssimo, muito dolorido, infelizmente ainda estava com colo muito grosso, posterior e com 2 cm de dilatação. Isso na verdade queria dizer nada. Mas como estava de 41 semanas e meia de gestação o médico não me liberou para voltar para casa, disse que iria me internar para induzir o parto.
Fomos para um quarto da maternidade que era pré-parto e sala de parto também, tinha banheira e uma cadeira de parto. Foi lá que comecei a indução com Misoprostol e às 13 horas mais ou menos colocaram o famoso soro (ocitocina sintética).
Meu trabalho de parto evoluiu muito rápido, embora fosse meu primeiro filho e estivéssemos induzindo do zero praticamente, mas algo me incomodava bastante, eu estava com muita fome, só havia tomado um copo de leite pela manhã e ninguém vinha para liberar um almoço para mim ou algo assim. Minha mãe estava comigo e quando ela tinha que sair por algum tempo minha prima Marilda que é enfermeira vinha ficar comigo.
Acho que era umas 15 horas quando desisti de esperar a comida e resolvi entrar na banheira para dar uma relaxada, me movimentar com o soro era meio complicado, mas graças as minhas acompanhantes pude me movimentar bastante, ir ao banheiro diversas vezes e ficar um bom tempo na banheira. Eu me lembro que de repente minhas contrações começaram a ficar mais fortes e mais próximas, eu estava na banheira, e minha mãe me trouxe um suco, que não consegui tomar, pois a dor havia aumentado e me deixado um pouco enjoada.
Na verdade as contrações aumentaram porque minha bolsa havia rompido e provavelmente o bebê estava mais baixo agora. Eu pedi para sair da banheira, minha mãe chamou a enfermeira, ela veio junto com uma enfermeira obstetra que avaliou e disse que já estava quase com dilatação total, logo meu bebê nasceria, então elas diminuíram a ocitocina e foram embora. É provável  que ela tenham colocado algum remédio para dor no soro, pois entre uma contração e outra, ou seja, um intervalo de menos de 2 minutos eu simplesmente apagava, era como se num minuto eu estivesse em sono profundo e no minuto seguinte eu estivesse curtindo uma contração “punk”. Eu me lembro de dizer para minha mãe que não agüentaria, e ela perguntou se eu queria que me fizessem uma cesárea e eu rapidamente respondi que não, então ela disse que eu agüentaria.
Nessa altura eu já havia perdido a noção de tempo, não tinha idéia que horas eram eu sei que ainda estava sol, e era um calor enorme naquele quarto, quando a enfermeira obstetra voltou, avaliou e pediu para a enfermeira ajeitar tudo, pois meu bebê já iria nascer.
Dessa parte me lembro bem, eu perguntei para a minha mãe sobre a anestesia, minha mãe disse que para anestesiar era necessário ir até o centro cirúrgico e eu disse que não queria sair dali. As enfermeiras prepararam a cadeira de parto para que eu ficasse em semi-cócoras, para facilitar. A enfermeira obstetra disse que daria anestesia local para fazer um pequeno corte, a episiotomia, para “ajudar” o bebê a sair e assim foi feito.
 Logo eu estava fazendo força, uma força que eu jamais teria imaginado que eu tinha se não fosse aquele momento. Então veio a melhor sensação do mundo, eu sentia minha filha descendo pelo canal de parto, Janete (a enfermeira obstetra) disse que estava vendo a cabeça do bebê. Minha mãe e a Marilda também estavam lá, observando, Janete cortou um cacho de cabelo da Sarah que estava ali, coroada, deu para mim e disse, vamos lá seu bebê está aqui, só mais um pouco de força e então eu senti todo o seu corpo saindo, sensação mágica, e lá estava ela, de olhinhos entreabertos, gorducha. 
Hoje eu sei que muitos dos procedimentos pelos quais eu passei no parto da Sarah foram desnecessários, mas para um parto hospitalar era o que poderia esperar, as duas coisas que mais me incomodaram não foram exatamente as intervenções feitas desnecessariamente, mas sim o fato de me deixarem tanto tempo sem comer, colocando minha saúde e a saúde de meu bebê em risco, e o fato de eu ter passado tanto tempo lá sem que eles ouvissem o bebê para saberem se ele estava bem.
O importante é que minha primeira filha havia nascido, cheia de saúde, a Sarah nasceu no dia 1° de Fevereiro às 17:45 com 3,720 kg, veio para o meu colo, se aconchegou em meu seio e mamou ali mesmo, na sala de parto. E eu pude descobrir que era muito forte e capaz de trazer uma vida ao mundo, a sensação de poder e fortaleza é o que te torna mãe, daquele momento em diante.
 Quando a Sarah estava com 4 anos conheci o André, que em dois anos se tornou meu marido e pai dos meus filhos. Quinze dias antes de nosso casamento que ocorreu em 10 de novembro de 2012 descobrimos que eu estava grávida. Foi uma alegria enorme para mim, André e Sarah, que finalmente ganharia um irmão.
Nós optamos por não saber o sexo do bebê, e decidimos por um parto domiciliar, uma vez que a experiência de parto que eu havia tido anteriormente mostrou que o hospital trazia mais problemas do que soluções ao trabalho de parto. Durante toda a gestação freqüentamos os grupos de gestantes, e agora minha mãe já atuava como doula há cinco anos e havia me passado bastante informação. Também pratiquei yoga durante toda a gravidez, foi muito bom para manter a disposição, aliviou as dores nas costas e na lombar além de aprender a controlar a dor através da respiração.
A gestação foi muito tranqüila e nós curtimos demais aquele barrigão e cada momento que passamos. No oitavo mês, estando tudo sob controle decidimos que nossa equipe de parto seria: as parteiras fantásticas Adriana e Camila, minha doula Gi do Prado e minha fotografa de parto Mari Zago.
Entrei de férias no início de junho para organizar as coisas do bebê e os preparativos para o parto domiciliar, pois minha data provável do parto era três de Julho de 2013. Já tínhamos os nomes, se fosse menino Thomaz e se fosse menina Marina.
No domingo, dia 30 de junho, André, Sarah e eu fomos até o Parque do Basalto para fazer uma sessão de fotos da família com a enorme barriga, que estava prestes a explodir. Andamos bastante pela manhã junto com a fotografa e fizemos varias fotos. Depois fomos para um almoço e eu comecei a sentir uma umidade, como estava cansada eu e o André fomos para casa e a Sarah foi brincar com os primos.
A noite haveria o jogo da final da Copa das Confederações e nós fomos até a casa do meu avô para buscar a Sarah e assistirmos ao jogo. Durante o jogo comecei a sentir umas contrações que vinham de dez em dez minutos mais ou menos. Fiquei tentando me acomodar e respirar fundo durante as contrações. O jogo terminou e fomos os três para casa, quando cheguei liguei para minha mãe e disse que estava sentindo contrações de dez em dez minutos, e ela me disse para tomar um banho demorado e relaxante com o André para que ele fizesse massagem e que depois eu tentasse dormir.
Foi exatamente o que nós fizemos, fiquei no chuveiro por um longo tempo sentada na bola de pilates com o André massageando minha lombar, embora a dor aliviasse as contrações estavam ali. Eu tentei deitar e dormir, mas não foi possível, as contrações foram ficando cada vez mais próximas e eu precisava ir o tempo todo ao banheiro. Acho que eram umas 3 horas da manhã quando disse para o André que queria ligar para minha mãe, as contrações estavam só aumentando e eu comecei a perder o tampão.
Minha mãe veio para minha casa e o André ligou para a doula, a fotografa e para as parteiras. O tempo todo eu fiquei com o André no banheiro e eu estava controlando bem as contrações, estava bem calma e o André estava ainda mais calmo.
Quando as parteiras chegaram vieram ouvir o bebê e estava tudo perfeito, embora todos estivessem na minha casa ninguém atrapalhou o nosso momento, todas elas deixaram que eu e o André ficássemos juntos passando por cada contração. Então logo pelo inicio da manhã as parteiras vieram para escutar o bebê e perguntaram se eu não queria sair um pouco do banheiro e ir para a banqueta de parto, pois elas iriam começar a encher a banheira na sala. Eu me levantei para ir do banheiro até o quarto, mas senti algo no meio das minhas pernas. Era a bolsa que já estava descendo, pois eu já estava com dilatação total. Todos acharam que o bebê já iria nascer, as parteiras pensaram que nem daria tempo de encher a banheira, mas não foi tão fácil.
Passei a manhã toda com aquela bolsa no meio do caminho, eu tocava e sentia que atrás da bolsa estava a cabeça do bebê, eu já estava ficando bem incomodada com aquilo, nessa altura eu já estava na banheira  e o André estava comigo, a Sarah já tinha ficado comigo um pouco no quarto, mas agora já estava em frente de casa com o meu pai e minhas irmãs. Era hora do almoço quando pedi para a Camila tocar, quando ela fez o toque a bolsa estourou, mas o bebê não desceu como todos estávamos esperando. As coisas seguiram do mesmo jeito durante toda tarde.
Eu, minha mãe, a Gi, as parteiras e o André passamos o dia todo caminhando pelo quintal e tentando fazer o bebê descer, elas pediam para eu ficar de cócoras, puxar o reboso, bater os pés, enfim, qualquer coisa para que o bebê pudesse descer. Todo mundo estava se revezando para ficar comigo.
A noite chegou e as contrações já haviam se espaçado e eu não tinha vontade de fazer força. Decidi entrar no Facebook e avisar as meninas do grupo de gestantes e do Yoga que estava em trabalho de parto e jantar. Comi bastante na janta e fui tentar deitar um pouco com o André. A Sarah também foi dormir.
Mais tarde as parteiras acharam melhor fazer um toque para verificar o posicionamento do bebê, nesse momento todos nós sabíamos que alguma coisa não estava certa. Durante o toque a Camila chamou a Adriana e as duas se entreolharam e percebi que realmente alguma coisa estava errada. Elas disseram que o bebê estava mal posicionado e que seria melhor nós transferirmos para o hospital, pois lá poderíamos usar de outros recursos, ou até mesmo recorrer a uma cesárea se fosse necessário.
Minha mãe entrou em contato com o Dr. Rogério de São Carlos e ele disse que nos encontraria na maternidade. E assim fomos para São Carlos na madrugada, eu, André, Camila, Adriana, Gi e Mari, chegamos lá às três horas da manhã e fazia um frio terrível!
Passei pela triagem e fui para o quarto, o Rogério pediu para tentar a ocitocina para que as contrações voltassem a efetivar, e como voltaram. Comecei a chorar, a dor da contração com a ocitocina juntou-se então com o medo que eu estava de saber que talvez eu não conseguisse parir o meu segundo filho. Pela manhã eu disse que não queria mais tentar, que estava esgotada e com muita dor. O Rogério disse para tirar a ocitocina e agüentar mais um pouco, pois o bebê estava super bem. As parteiras e a Gi continuaram tentando de tudo para ver se conseguiam mexer na posição do bebê, mas nada do que nós tentávamos estava ajudando.
Durante todo esse tempo minha bolsa esguichava líquido a cada contração e depois do horário do almoço o líquido deixou de ser transparente e inodoro e passou a uma cor um pouco mais escura e um cheiro forte, fiquei preocupada, a parteira me acalmou dizendo que podia ser um pouco de mecônio, mas que estava bem diluído, não havia perigo, estavam escutando o bebê o tempo todo e ele estava ótimo.
Nessa altura eu já estava mais do que exausta, não só eu, mas todos que estavam comigo. Combinei com o André que esperaria até as 16 horas e então se nada mudasse iria para a cesárea, mas não agüentei até lá, minha mãe já havia mandado uma mensagem no celular da Gi dizendo que o que eu escolhesse seria o melhor para mim e meu bebê. Então às 15 horas pedi para o André chamar a enfermeira e pedir a cesárea.
Fui chorando para o centro cirúrgico, mas tudo o que eu queria era ver o meu bebê, pegá-lo no colo. O André ficou comigo o tempo todo durante a cesárea, a Mari também entrou para fotografar. A cesárea era tão ruim quanto eu esperava, colocar a sonda sem anestesia e durante uma contração não foi nada agradável, me lembro de sentir certo alivio após a anestesia, as contrações se foram, mas agora estava amarrada e sendo submetida a uma cirurgia de médio porte, para suportar só pensava no meu filho.
A melhor parte foi o ouvir ele chorando e o médico dizendo “que sacão roxo!”. Sim era um menino, o nosso tão esperado Thomaz. Lindo e saudável com seus 3,900 Kg, nasceu às 16:10 do dia 02 de Julho de 2013, dez dias antes do meu aniversário.
A recuperação foi bem pior do que a cesárea em si, mas tudo vale a pena quando se tem dois filhos lindos e saudáveis!
Aproveito o momento para agradecer a cada um que esteve presente em meus partos, em especial às parteiras que dedicam suas vidas ao momento sublime do nascimento, às doulas por ajudarem as mulheres a encontrar sua força e coragem, a nossa fotografa que registrou momentos indescritíveis e especialmente a minha família, minha mãe, meus filhos e principalmente ao meu marido, que esteve muito presente durante todo o nascimento do Thomaz e que me ajuda na criação de nossos filhos todos os dias com muito carinho.
E assim encerro até aqui minhas histórias de parto e maternidade, mas ainda não terminou, pois a vida é um ciclo sem fim! Espero que meus relatos sirvam para inspirar e encorajar as mulheres a buscarem tudo aquilo que querem e encontrem dentro de si toda a força e poder que existe dentro delas.



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