Esta manhã o céu está todo azul, um azul de inverno, muito
luminoso, quase ofuscante. Estendida na cama, pouso as mãos em em minha
barriga, traço leves círculos em torno do umbigo enquanto olho o teto. Estou
grávida. (...) Eu já conhecia ‘você está grávida’, ‘ela está grávida’. Nunca
havia pronunciado ou escrito “estou grávida”. Grávida: mais do que: “em estado
de gravidez”, sinto-me em estado de secreta defesa. Investida, como se houvesse
recebido uma missão. Mas, investida do quê, não sei. Nem consigo imaginar. Olho
o sol que faz desenhos no teto. (...) Só quero continuar deitada com esta
revelação no meu ventre e saborear sua presença.
In. BERTHERAT, MARIE. Quando o corpo consente. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p. 13.
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