À medida que fui me tornando mãe, porque não nascemos mães,
e não nos transformamos assim que nossos filhos nascem, eu fui delineando minha
personalidade como mulher. Muitas coisas que não faziam parte de minha
realidade, muitas preocupações que não me diziam respeito, começaram a fazer
parte do meu cotidiano. A maternidade me fez mais forte e questionadora. Por
isso, não aceitei a cesárea no meu primeiro parto, queria respostas, queria
explicação. Na segunda vez, contrariando todas as expectativas e realidade ao
meu redor, eu pari. Também não conseguia aceitar que tivesse parado de
amamentar minha primeira filha quando ela tinha apenas 4 meses. Na segunda vez,
amamentei por mais de um ano. E assim fui traçando meu próprio caminho, sempre
tentando buscar o que havia de mais difícil, mais desafiador. Nunca me
contentei em ir com a maioria, sempre fui aquela que fazia as escolhas
diferentes. Há mais de 25 anos, a maioria das minhas amigas começavam suas
carreiras, e eu, por livre escolha, resolvi exercer a maternidade. Ser mãe
integralmente, ficar em casa com elas, não ter uma carreira profissional,
curtir coisas simples como fazer um bolo, estourar pipoca e rolar no chão com
as meninas, não fez com que eu me sentisse menos mulher.
Tenho refletido muito sobre toda a minha trajetória como
mulher, e como mãe. Elas são uma coisa só. Não consigo me ver sem minhas quatro
filhas, sem nossos momentos de intimidade, sem as alegrias das coisas simples. Dedicar
a vida ao crescimento dos filhos, não nos faz menor. Muito pelo contrário, me
sinto plena, realizada.
Outro ponto que me realiza, sempre foi a culinária. A
cozinha é um lugar sagrado, um lugar de ritual. Onde a cada dia, pensamos,
juntamos os ingredientes, e preparamos uma refeição que será partilhada em
família. Cozinhar é um momento em que damos algo de nós também. Não é
submissão, mas é doação. É quando preparamos as refeições de nossa família, que
pensamos em cada um, em como gostam deste ou daquele prato. Nossa boa energia
flui para eles, através da comida que fazemos.
Para mim, maternidade se mistura muito bem com uma mesa boa,
cheia de alimentos feitos em casa, saudáveis ou nem sempre saudáveis. Mas feitos
com toda a boa energia e a dedicação que a maternidade despertou em mim.
Enquanto dedicava minha rotina à formação de minhas filhas,
sentia que construía um mundo melhor, que plantava nelas, a semente da
feminilidade. Não uma feminilidade de submissão, mas uma feminilidade de cumplicidade,
de mulheres que cuidam e acolhem.
Desejo com esse texto, deixar meu recado para que cada
mulher faça suas escolhas, independentemente de quais sejam, mas que sejam
conscientes, e que as deixem sentir-se como parte integrante das mulheres guerreiras,
feiticeiras, deusas. Mulheres que constroem seres humanos, que os ajudam a
tomarem forma.
Que possamos ajudar a crescer seres do bem, que amem ao
próximo, que vivam em paz!
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