No dia 02 de agosto de 2011, estava feliz iniciando o doutorado em São Paulo, trabalhando e descobrir que estava grávida de um mês mais ou menos. O que queria muito, mas combinei com meu marido que ficaria grávida em 2012. Parei com o anticoncepcional e a natureza agiu antes de nossos planos. Nos primeiros dias, ficamos um pouco ansiosos com a notícia, mas a alegria e a expectativa de ser mãe foi tomando conta de todos nós.
Logo nas primeiras conversas com Angélica, nas
aulas de doutorado, ela perguntou se eu havia pensado como meu bebê ia nascer. Achei
a pergunta um tanto quanto estranha. Para mim ele nasceria de parto normal, eu
disse a ela. Meu espelho era minha mãe que teve 12 filhos de partos normais,
alguns em casa, inclusive eu. Para mim o parto normal era a via óbvia para ele
nascer. Quanta ingenuidade... Angélica me levou um pequeno-grande livro chamado
“Parto normal ou cesárea? O que toda mulher deve
saber (e todo homem também)” de Simone Diniz e Ana Cristina
Duarte. Rapidamente li o livro e descobri que minha batalha para ter meu filho
de parto normal devia começar bem antes. Não tinha dúvidas de que teria o bebê
em Araraquara com meu ginecologista que eu confiava e gostava tanto. Logo nas
primeiras consultas - e sabendo em conversas com algumas pessoas que trabalha
com gestantes que ele só fazia cesáreas – lhe perguntei se fazia parto normal e
ele disse que sim. Fui mais incisiva e acrescentei “mas todo mundo diz que vc
só faz cesárea” ao que ele respondeu “são as mulheres que não querem parto
normal, ai eu faço cesárea, elas que não querem...”.
Essa foi a única conversa
sobre parto que tivemos até o sétimo mês de gestação quando desisti de ir às
suas consultas, sempre noturnas, algumas até depois de 22 horas que ele
brincava chamando de sessão corujão! Eu não marcava mais consultas de dia porque
havia atrasos de horas a fio...
Para minha segurança e com o plano de
saúde, procurei um obstetra em São Paulo, pois ficava lá de quarta á sábado
trabalhando e estudando. Com a constatação inicial da dificuldade de ter parto
normal em Araraquara cogitei a possibilidade de ter nosso bebê em São Paulo -
ainda que isso significasse um total desconforto por está longe de casa - e
consultei umas 3 vezes com um ginecologista que fazia parto normal, mas pasmem!!!
Ele cobrava 3.600 reais à parte para isso. Outra possibilidade que ele indicou
foi de eu ter o bebê no hospital (São Luiz ou Promater) com o obstetra de
plantão, o que eu não queria. Conversei com meu marido e chegamos à conclusão
que pagaríamos o valor exorbitante para ter o bebê de parto normal com o médico
que conheci.
Entretanto, em uma das consultas em
Araraquara, com 4 meses de gestação, meu obstetra (até aquele momento) me
ofereceu um pequeno folder com os dados de uma professora de ioga para
gestantes, foi tudo que precisei para que meus planos começassem a caminhar.
Logo liguei para a professora Luiza, com quem me
identifiquei imediatamente. Inicialmente, fazia ioga uma vez por semana em
casa. Além do aprendizado fundamental e um autoconhecimento nas aulas, as
conversas sobre parto e outros assuntos eram um capítulo à parte. Nestas
conversas ela contou que tinha o mesmo obstetra que eu em Araraquara e com ela
também ele disse que fazia parto normal, mas depois de um tempo acabou em uma cesárea
desnecessária. Mencionou o Dr. Rogério de São Carlos como obstetra humanizado e
também indicou uma doula em Araraquara - palavra que conheci no livro citado,
mas não imaginava que aqui em Araraquara tivesse esse trabalho maravilhoso. Minha
determinação e a busca por um parto natural humanizado começava a ganhar
contornos definidos. Na primeira consulta com Dr. Rogério notei a imensa
diferença entre ele e os outros dois obstetras. Falei para ele que estava
procurando por ele para “fazer meu parto” e ele me corrigiu “o seu parto quem
faz é você mesma”. Numa longa e calma conversa relatou como a forma de nascer
chegou a este ponto das mulheres acharem que quem faz o parto é o médico e não
elas. A cada consulta media minha barriga - que nenhum outro havia feito- e
derrubava mitos que eu ouvia do outro obstetra como cordão enrolado no pescoço,
os ultrassons desnecessários feito no consultório em todas as consultas em
Araraquara, enfim.
Eu e meu marido, logo na primeira consulta, ficamos mais
seguros de que seria em São Carlos que o Artur
nasceria (a essa altura já tínhamos escolhido o nome). Visitamos a maternidade
da Santa Casa e a Casa de Saúde nas quais o Dr. Rogério atendia. Ficamos muito
bem impressionados com a possibilidade de ter o Artur de forma humanizada e
escolhemos na Casa de Saúde um quarto chamado PPP (pré-parto, parto e
pós-parto). Pagamos um valor bem salgado que não era coberto pelo plano. Mas a
forma de parir o Artur da forma sonhada era nossa prioridade absoluta e para
isso não medimos esforços. A cada consulta as conversas esclarecedoras com Dr.
Rogério, sua tranquilidade e sua confiança em mim fazia com que eu me
fortalecesse mais e segurava um pouco a ansiedade que às vezes aparecia já na
reta final da gestação.
Minha autoconfiança ia crescendo à
medida que conhecia a fisionomia do parto e compreendendo todos os passos que
eu e Artur íamos percorrer. Isso foi possível graças ao trabalho de doulagem
com a Cris. Outra personagem maravilhosa que apareceu no nosso caminhar. Suas
visitas a partir de 31 semanas de gestação, os vídeos e a indicação de leituras
eram todos momentos de aprendizado, concentração e energia positiva. Além
disso, frequentei as reuniões do grupo Nascer Naturalmente mediadas pela Cris e
a Luiza. Este foi um espaço rico de trocas e discussões sobre a melhor forma de
parir. Enfim, estava cercada de pessoas encorajadoras, respeitosas e acreditava
cada vez mais que os principais alimentos para parir o Artur de forma natural
eram a minha vontade e o conhecimento que me fizeram mais corajosa. Coragem que
pode ser minada dependendo de quem encontramos nos consultórios médicos que
passamos quando estamos grávidas. A partir daí o trabalho de autoconhecimento,
a minha autoconfiança e nos profissionais que encontrei foi fundamental para o
parto dos meus sonhos.
Na última aula de ioga já com 40
semanas e 1 dia de gestação, Luiza comentou que havia conversado com a filha
dela, ainda em seu ventre, que poderia nascer, e depois de “combinado” a Olívia
chegou. Depois daquela conversa, naquela quinta-feira, conversei com Artur
dizendo a ele, por 2 vezes que poderia vir quando quisesse porque já o
esperávamos com tudo pronto. Eu ainda achava que demoraria mais uns 3 dias. Mas
ele só esperou o sinal!
Ainda na quinta-feira à noite, meu
marido também sentiu que o Artur nasceria logo, logo. Quando viu uma borboleta
pousada na porta de nosso quarto, segundo ele, a sensação de que o Artur
nasceria foi imediata. Não deu outra! Na madrugada do dia seguinte percebi que
minha bolsa havia estourado, era aproximadamente 4h da manhã. Como havia lido
de outras experiências que muitas vezes depois que a bolsa estoura poderia
demorar para iniciar o trabalho de parto, fiquei calma e fui para o chuveiro e
tomei um banho demorado. Sentia um desconforto nas costas, mas achei melhor não
chamar meu marido que dormia tranquilamente. Decidi voltar a dormir porque
ainda estava com sono. Ao voltar pra cama ele acordou e perguntou o que havia
acontecido e eu disse que minha bolsa havia estourado, mas que ficasse
tranquilo porque eu ia voltar para dormir. Ele se assustou e logo levantou. Na
realidade o trabalho de parto estava iniciando e eu não voltei pra cama, mas
para o banheiro, pois a sensação de ir ao banheiro crescia à medida que vinha um
pequeno desconforto (dor). Fiquei lá por meia hora. Quando vinha uma dor, que
ainda era pequena, eu me concentrava nas respirações aprendidas no ioga e
passava tranquilamente por ela. Elas aumentaram e meu marido fez massagens
providenciais que aliviaram bastante a sensação ruim. Por volta das 6:30h
ligamos para a Cris a pedido do meu marido que insistia preocupado. Apesar da
dor está mais presente, como eu conseguia controlar bem, acreditei que
demoraria para engrenar o trabalho de parto (TP).
Ela passou um óleo e fez uma massagem milagrosa que aliviou muito a sensação dolorosa. CRISSSS!!!!! Foi o nome que mais falei em todo o TP. As contrações aumentaram e ela achou melhor irmos para São Carlos (PPP da Casa de Saúde). André fez algumas ligações para localizar o Dr. Rogério como não conseguiu Cris tentou localizar Jamile, mas sem sucesso. Cris insistia para eu colocar uma roupa para irmos e eu o fiz vagarosamente entre uma contração e outra.
Já na sala de casa de saída para São
Carlos falei pra Cris pedi umas toalhas pro André para colocar no carro e ela
me perguntou onde ficavam, para não assustá-lo, eu temia que o Artur viesse
logo (na viagem para são Carlos) porque as contrações estavam bem ritmadas.
A viagem até São Carlos foi a pior
parte de todo o TP, procurava uma posição para suportar as contrações, a melhor
delas foi deitar com a cabeça no colo da Cris que segurava minha mão e com a
outra massageava minhas costas. Eu desejava que ela fosse um polvo, como ela
brincou!!!
As sensações eram diversas e
paradoxais: queria escutar música pra relaxar, tinha preparado um cd com a música
de Maria Betânia “tinha que respirar debaixo dágua...”, mas quando André ligou
pedi para tirar. Sentia calor, pedia pra abrir as janelas e logo depois sentia
frio. Enfim com as contrações indo e vindo eu solicitava uma coisa e em seguida
mudava de ideia, as sensações eram instáveis. O pior mesmo eram os buracos na
pista e nas ruas em São Carlos, por mais que André dirigisse devagar e com
cuidado, cada batida aumentava o desconforto!!! A viagem pareceu interminável!
Enfim chegamos à casa de saúde por volta
das 9 horas da manhã. André me ajudou a sair do carro, não sem antes aguardar
mais uma das contrações. E eu falava convicta e pensava: “mais uma, ou melhor
menos uma contração, está mais perto do Artur chegar”.
Fomos recebidos pela Jamile e já no corredor do quarto PPP no terceiro andar que íamos ocupar encontramos Shirley uma enfermeira maravilhosa com voz suave e aveludada que falava (na verdade sussurrava) palavras encorajadoras! Como ela foi importante porque transmitia calma e tranquilidade! Tudo e todos conspiravam a favor de um parto rápido e sem dor, como eu mentalizava sempre que pensava nessa hora fundante da chegada de Artur. Já no quarto com a Cris e a Shirley (André chegou logo depois de fazer os procedimentos burocráticos da entrada na maternidade), me livrei rapidamente das roupas, um alívio!
Fomos recebidos pela Jamile e já no corredor do quarto PPP no terceiro andar que íamos ocupar encontramos Shirley uma enfermeira maravilhosa com voz suave e aveludada que falava (na verdade sussurrava) palavras encorajadoras! Como ela foi importante porque transmitia calma e tranquilidade! Tudo e todos conspiravam a favor de um parto rápido e sem dor, como eu mentalizava sempre que pensava nessa hora fundante da chegada de Artur. Já no quarto com a Cris e a Shirley (André chegou logo depois de fazer os procedimentos burocráticos da entrada na maternidade), me livrei rapidamente das roupas, um alívio!
Quis ir para o chuveiro! Incrível como a água é poderosa para aliviar a dor. Fiquei no chuveiro de mãos dadas com André por um bom tempo, ele me apoiava, fitava os olhos, o silêncio me ajudava a concentrar e buscar forças, ele dizia muito para nós. Palavras eram desnecessárias, a cumplicidade foi primordial para um parto perfeito, me senti forte, cuidada.
As contrações vinham mais fortes e eu soltava um som estranho que não havia feito antes, um som primitivo próximo de uma leoa. André brincou depois dizendo que parecia um Tarzan. Era um eco (Uahhhhh!!!) que escutei em um vídeo de parto francês indicado pela Cris. No momento em que eu assisti, achei estranho, remeteu a algo primitivo e lembro-me de ter achado bem esquisito aquele som que a moça fazia ao parir. Foi esse instinto primitivo que encontrei para me concentrar e relaxar a pelve sempre que a contração tomava conta do meu corpo. Pensava nelas como uma onda poderosa de energia que trazia o Artur para junto de nós, como li em algum lugar da parteira mexicana (Naoli). Ali debaixo da água quente os puxos começaram, uma vontade incontrolável de fazer força. De fato parir é algo fisiológico. Eu me entreguei. Sentia-me cada vez mais forte, estava certa que conseguiria, confiei plenamente em meu corpo para parir.
Minhas energias eram a todo momento repostas pelos cuidados na medida certa da Cris que me oferecia água, suco de laranja (tomei uma jarra, estava delicioso), mel!!! Depois dos puxos iniciais Cris me perguntou se queria ir para a banheira e eu aceitei. A banheira do quarto que eu estava não estava esquentando e encheram a banheira do outro PPP ao lado. Já era hora do Artur chegar! Saindo do chuveiro, a Cris perguntou se eu queria entrar na banheira ou se ficaria na banqueta. Com a mão na barriga perguntei ao Artur o que ele queria... Enquanto isso as meninas colocaram algumas toalhas no chão junto da banqueta (onde estava sentada no chuveiro) ao pé da cama. André sentou na cama e me apoiava por traz enquanto
Cris estava à minha esquerda e a Shirley à minha frente. Havia outras 2 enfermeiras, uma delas cujo nome me escapou, fotografou passo a passo a chegada do Artur. Juntos todos me apoiavam. Sentia as pernas cansadas e dizia para Cris que minhas pernas doíam e ela fez massagens que me fortaleceram e possibilitaram continuar concentrada para fazer força. Lembro-me da Shirley alisando minha barriga e dizendo “vem Artur, estamos te esperando”. Sugeriu que medíssemos a dilatação e para sua surpresa o que encontrou foi o Artur já coroando. Ela e Cris sugeriram que eu me tocasse e sentisse o Artur, coloquei os dedos e senti, não acreditei... estava esperando um tempo maior e mais dor; a tão temida e falada dor do parto. Pensei que se eu me empolgasse muito poderia desconcentrar e atrasar o processo, minhas respirações... Concentrei ainda mais, respirava e imaginei que demoraria ainda para ver o Artur. Estava enganada, depois disso tive poucas contrações e Artur já estava em meus braços, sobre minha barriga. Pareceu um grande milagre! Dr. Rogério chegou pouco depois que o Artur coroou. Mais uma contração, essa foi a mais forte, lembro que pensei no “anel de fogo”, mas foi totalmente suportável, a emoção, a ocitocina aliviam e tornam as ondas mais amenas. Foi muuuuito emocionante, André me apoiava emocionado e lembro que dizia “Calma André”. Artur estava com a cabeça para fora e os olhos bem aberto, como comentou naquela hora o Dr. Rogério que mencionou “vou te ajudar”. Nessa hora eu gritei “não quero ajuda nãaaaaaooo”, me sentia totalmente empoderada, envolvida por uma imensa sensação de êxtase, no momento mais incrível da minha vida... expectativa era grande. Enquanto recusava ajuda uma contração forte trouxe o Artur para junto de mim. Inexplicável, não consigo traduzir em palavras o sentimento de plenitude que nos envolvia ali (e alguns dias depois). A emoção tomou conta de todos nós. E ele ali se aninhando em meu colo, olhos grandes e pretos fixados em mim em silêncio. Momento único, mágico, maravilhoso, toda a energia do universo estava comigo naquele momento, parece que tudo parou! INTENSO, a alegria era do tamanho do mundo. Lindo, perfeito. Parecia sonho!!!! O pequeno príncipe nasceu!!
Foi um parto poderoso, iluminado,
rápido e sem dor (os desconfortos eram muito suportáveis pelas respirações
profundas e a consciência da capacidade de parir do meu corpo), como havia lido
nas experiências de outras mulheres e conversado com outras mães.
Depois de um tempo que o cordão umbilical
parou de pulsar, o mesmo foi cortado pela Cris, dando autonomia para Artur
respirar em um parto humanizado, glorioso. Nascia ali uma nova família, uma
mulher forte, um pai emocionado que se mostrou mais uma vez companheiro, e um
bebê saudável que percorreu seu próprio caminho/tempo para nascer! Jamais
imaginei, até encontrar a Luiza, que poderia ter um parto assim morando em
Araraquara.
Resumindo: o que as pessoas chamam de
corajem por ter um parto normal, para mim é um misto de vontade e um pouco de
conhecimento sobre as forma de parir. A consciência sobre o que vai acontecer
nos tornam muito fortes, o resto é respeitar o corpo e o bebê, deixando-o
encontrar seu caminho e seu momento! Porque “sabemos parir” como belamente diz a
música de Zaragoza.
Além do Artur, o parto trouxe ganhos não
previstos: a amizade delicada da Luiza, o apoio físico e emocional na fortaleza
da Cris e o cuidado fundamental, corajoso, surpreendente do André que se
agigantou, presença fortalecedora. Pessoas eternas!!!
A presença física e mental de cada um
de vocês tornou a memória desse momento positiva, restauradora e inspiradora! Obrigada
Artur!(Sandra Caldeira, esposa do André e mãe do Arthur)
5 comentários:
Lindo! Me emocionei ao ler este relato. Pena que não terei mais filhos!!!
Emocionante! Não tem outra descrição!!!
Estou ainda mais disposta ao desejo do parto humanizado!
Parabéns, Mamãe, Papai e Artur! E claro, aquelas que os apoiaram!!
Brenda Prevato
Lindo ler
Seu relato Sandra! Ainda mais com seu sotaque na minha cabeça!
Mulher loba guerreira!
Inspirador!!!!
Não vejo a hora de chegar minha vez!
Parabéns pelo seu processo, parto e pela sua linda maternagem!
Bjs procês!
Que coisa mais linda! Chorei muito.. gostaria de saber o nome completo desse médico, estou tendo dificuldades com minha médica. Estou na 10ª semana, mas pela conversa já vi que ela é contra o parto normal e fiquei triste, estou procurando indicações para mudar de médico. Vânia
Vânia, envie seu email, por favor.
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