terça-feira, 2 de outubro de 2012

Verde Oliva

Essa é a terceira vez que tento escrever sobre minha experiência durante o parto da Olivia que agora está com 4 meses. Normalmente eu me expresso muito bem, mas é muito difícil colocar em palavras algo tão indescritível. E mesmo tendo terminado de escrevê-lo, ainda acho que não esta perfeito, mas acho que isso será impossível!

Na quinta-feira antes da Olivia nascer estivemos na médica e disse a ela o meu plano de parto que consistia em: entrar em trabalho de parto no sábado em torno das 8 da manhã, sairia de casa as 2 da tarde para a maternidade e as 6 da tarde a Olivia nasceria, assim, no domingo eu poderia ir pra casa e não estragava a semana de ninguém que precisaria trabalhar! Minha médica, rindo, me disse que acreditava que me veria mais uma vez no consultório antes do nascimento.

Na sexta-feira a noite eu estava sentindo um frio na barriga, será que eu estaria certa? Tive vontade de comer brigadeiro e até coloquei um pouco de canela em pó (devo dizer que ficou maravilhoso!!), acho que meu corpo sabia que ia precisar de calorias extras!

Estava ansiosa, não tinha tido nenhum sinal de que a hora estava chegando, nenhuma contração, nem perda do tampão. Era como se nada tivesse diferente e já íamos fazer 40 semanas.

As 6 e 30 da manha de sábado eu acordei com a bolsa estourando. Chamei minha mãe, liguei pra minha doula e medica., Depois de meia hora, as contrações começaram, mas ainda muito tímidas. Então comecei a arrumar o quarto com as coisinhas da Olivia, e a preparar as malas para a maternidade.

Estava sentindo um misto de ansiedade e alegria. Plena de que tudo estava indo bem e que seria exatamente como eu havia planejado (quase nada controladora!!). As 11 horas da manha as contrações já estavam mais fortes e resolvi entrar na banheira daqui de casa para ter certeza de que era trabalho de parto efetivo. Minha mãe fez um chá de canela com cravo e gengibre; e ao sair do banho as contrações estavam mais fortes e com aproximadamente 5 minutos uma da outra.

Era hora de ir pra São Carlos. Chegamos na maternidade às 2 horas da tarde e a intensidade das contrações aumentaram proporcionalmente à minha ansiedade.

Tentei comer um pouco de açaí, mas aos poucos parecia que não existia mais intervalo entre a contrações. Meus próximos passos eram da cama pro vaso sanitário, do vaso pra bola, da bola de volta a cama. Não encontrava posição em que a dor parecia melhorar e meus sentidos estavam a flor da pele.

O toque, as massagens e a música me deixaram irritada. Eu precisava entrar em contato comigo mesma, tudo o mais tirava minha atenção do mais importante: meu bebê. Lembrei então de uma lição de meu pai: “quando sentir dor, respire, se concentre em sua respiração que a dor passa”.

Me deitei na cama, de lado, com a mão na barriga. Fechei os olhos e me focalizei nas minhas respirações. Pensava inspire, expire, dentro, fora... Nesse momento eu me fechei no meu mundo. Como uma gata procurando seu espaço para dar à luz eu encontrei meu canto e ali permaneci até a Olivia nascer. Não sei quanto tempo se passou, mas consegui cochilar entre as contrações e isso me deu a energia que eu precisaria para chegar no momento em que eu iria nascer como mãe e conhecer minha filha.

Não achei que fosse possível, mas as dores aumentaram muito mais. Eu me levantei da cama e comecei a buscar outras posições. Parecia que se eu colocasse força durante as contrações elas se aliviavam, mas só um pouco. Andei, sentei na bola; a minha doula chamou uma das enfermeiras que fez um toque (o único toque do TP inteiro). E, de repente, a energia do quarto mudou.

Encheram a banheira, e nela eu me senti como se estivesse em uma cama de plumas coberta com milhares de penas. Uma sensação deliciosa. Durante as contrações eu me colocava de joelhos e fazia força. Quando elas aliviavam eu me deitava de lado e me deliciava com a água quente cobrindo meu corpo.

Quando vi minha médica eu percebi que a hora estava próxima e ela me pediu que me tocasse e que eu sentiria a cabecinha da Olivia. Senti, e cada contração estava trazendo aquela cabecinha cada vez mais perto da saída. Como se não fosse possível, as contrações aumentaram mais uma vez de intensidade. Os minutos pareciam não passar e ao mesmo tempo parecia que eu estava ali há horas, dias até. Ainda, me incomodava muito quando mediam a freqüência cardíaca do bebê, mas eu sabia que era necessária. Eu queria mesmo era ser deixada quieta, no meu canto.

A emoção e a dor eram tantas que lágrimas escorriam de meus olhos e eu achava, não pela primeira vez naquele dia, que não conseguiria. Parecia que o bebê não estava descendo e que a força que eu estava fazendo não era suficiente. Então, me lembrei das pessoas me chamando de corajosa por querer um parto natural, me lembrei da minha prima me dizendo que as mulheres na nossa família tinham o cóccix transverso, que impedia a passagem do bebê. Realmente achei que não fosse conseguir, que havia algo errado comigo ou com meu corpo.

Chorei um choro sentido, liberando toda a emoção que eu estava sentindo. A cada contração eu gritava, não só para diminuir a dor, era um grito de extravasamento, como se eu conseguisse liberar toda a angústia e melancolia que existiam dentro de mim.

Usar o rebozo foi a melhor maneira de encontrar o meu equilíbrio e deixar com que a Olivia deslizasse para fora. A partir desse momento eu via as coisas de cima, como que flutuando e observando a cena. Eu já não era mais eu. “Está queimando” eu disse e então, vi o sorriso da médica.

A energia da sala mudou novamente. O ar parecia mais leve, houve ali uma transmutação. Na próxima contração a cabeça da Olivia saiu e doutora disse para que eu a tocasse. Eu toquei, quanto cabelo! Precisei mudar de posição, e me pareceu uma eternidade até a próxima contração quando a Olivia terminou de nascer. Como mãozinha dela veio junto com a cabeça, a medica teve que movê-la para que o corpo pudesse nascer.

Assim que ela veio ao mundo ela se aninhou em meus braços. Choramingou um pouco e conversei com ela. Toquei o cordão umbilical e o senti pulsar, tão forte, tão cheio de vida! No quarto todas estavam em silêncio, respeitando o momento, como que esperando a hora de voltar “à realidade”. A energia daquele nascimento parecia estalar no ar e deixar tudo mais bonito. Em seguida a Cris (doula) exalta: São 6 horas!! Ninguém acreditava o quão perfeito tudo aconteceu. Exatamente como eu previ!

Ticiana e Olivia há quase um ano atrás


Ficamos ali, eu, extasiada, uma vencedora, tão orgulhosa. Voltei para dentro do meu corpo assim que senti minha filha nos braços. Fechei os olhos e agradeci a Deus por ter conseguido. Por ter sido a primeira pessoa a tocar meu bebê, por ter dado a ela todo o respeito de um nascimento natural, sem drogas, sem intervenções. Eu fiz aquilo e fiz sozinha, com minha força interior e com a ajuda de minha mãe, tão querida, que me assegurava, a cada lágrima, que tudo daria certo.

Novamente eu tive a impressão de que Olivia e eu ficamos na banheira uma eternidade esperando o cordão parar de pulsar. E quando parou, e minha mãe o cortou, Olivia chorou. Como se ela tivesse sentido o corte da separação. Como se ela soubesse que nunca mais estaríamos ligadas fisicamente como estivemos pelas ultimas 40 semanas.

Naquela noite não dormi. Olhava pra ela e pensava que eu nunca tinha imaginado o quão linda ela poderia ser, e como brotou dentro de mim um amor tão incondicional que eu não sabia existir. Olivia virou meu mundo de cabeça para baixo e seu nascimento foi só o começo!

Olivia prestes a completar um ano!

9 comentários:

Tatiana Machado disse...

Que lindo, Ticiana! Parabéns pela vitória do parto e por este relato tão emocionante.

Cristiane Tarcinalli Moretto Raquieli disse...

Lindas as duas. Seu relato é emocionante a cada leitura. Parabéns e obrigada por permitir minha presença no momento em que só as deusas estavam presentes. Sinto até hoje a energia das mulheres poderosas que lá estavam naquele 15/10.

Eliana disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Eliana disse...

Q. LINDA VC!
bjokinhas pras duas queridas!

Pequenos Mimos disse...

lindo, chorei com seu relato...
E ela é a coisa mais fofa desse mundo, esses cabelos, olhos e sorriso encantam.
bjs

tici disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
tici disse...

Obrigada meninas!! O parto foi emocionante mesmo, cada vez que me lembro e vejo fotos eu me emociono... Reler o relato foi ainda mais tocante, e olhando minha azeitoninha, aqui, linda, forte, saudável me da a certeza de que o tempo corre mais rápido a cada minuto e perder qualquer momento é besteira!

Liu Paim disse...

Desculpa pela demora em publicar, Ticiana, mas acho q o aniversário é uma boa época de reviver as sensações. Parabéns pela conquista e obrigada por dividir com outras mulheres que buscam este empoderamento! Saudade dessa petica sapeca... até segunda! Luiza

Anônimo disse...

Ticiana, que legal ver seu relato aqui!! =)
Isabel Reis