quarta-feira, 19 de março de 2014

Relato de parto natural humanizado do Leonardo

No mês que o espaço do grupo é para os pais, recebo esse lindo relato de presente. 
Obrigada Marília e Léo. (Cristiane Raquieli)
Relato de parto natural humanizado da Marília e do Léo escrito pela Marília Laverde.
Essa é a história do nascimento do Leonardo, que deixo aqui registrada
como uma recordação do momento mais feliz da minha vida, para que ele possa
ler um dia e ver o quanto foi amado, desejado e o quanto lutamos desde o
comecinho para que ele fosse feliz!
O início de tudo
Meu sonho sempre foi ser mãe e poder parir, participar ativamente do
nascimento do meu filho, ser eu a primeira pessoa quem ia pegá-lo no colo e
quem ele veria assim que seus olhinhos se abrissem.
Por isso, mesmo antes de engravidar já pesquisava muito sobre o parto
humanizado, e isso passou a ser um sonho nosso (meu e do meu marido que
também passou a defender e militar pelo nascimento digno e respeitoso que todos
os bebês deveriam receber).
Foi então que após 5 anos de namoro e 3 meses morando juntos, resolvi
parar com a pílula por um mês apenas; não estávamos tentando engravidar, mas
achamos que em um mês sem evitar ele só viria se fosse a hora certa, e foi.
Engraçado como eu tinha certeza de que havia engravidado: foi num
domingo antes do dia dos pais e eu disse ao Léo: “Acho que vou ter que te
comprar um presente de dia dos pais” – e ele com aquela cara de “Mas já?!”,
hahaha. Aguardamos o atraso para fazer o teste, que só veio confirmar o que já
sabíamos, nosso filho estava vindo.
Atualmente moramos em Rio Claro, interior de SP, a cerca de 60 km de
São Carlos – onde eu havia morado quando fiz faculdade – e que é a cidade mais
humanizada da região. Muita gente vem de outras cidades buscando lá um
atendimento humanizado.
Rio Claro ainda está longe de ser uma cidade que busca a humanização do
nascimento, os médicos e hospitais daqui ainda estão longe disso. Por isso fomos
direto para São Carlos e começamos o pré-natal.
Tive uma gravidez maravilhosa, super ativa, sem enjoos nem incômodos (a
não ser a azia no finalzinho da gestação) e trabalhei até um dia antes de entrar em
trabalho de parto. Com 18 semanas descobrimos que estávamos esperando um
meninão, outra certeza que eu tinha.
Começamos lá pelo 7º mês a freqüentar as reuniões do GAPN (Grupo de
Apoio ao Parto Natural) em São Carlos, o que foi de fundamental importância para
nosso empoderamento, pois estar perto de pessoas que falam a mesma língua
que você mesmo tendo tanta gente em volta dizendo que parto natural é
“modinha”, “é gostar de sofrer” foi um alívio.
O trabalho de parto
No dia 09/04, terça-feira, (com 37+1) trabalhei normalmente e avisei que
entraria de licença quando completasse 39 semanas para poder estar descansada
e preparada para o parto. Mal sabia eu que os planos do Leonardo eram outros.
No dia 10/04, quarta-feira, fomos para São Carlos para a consulta do pré-natal
(a primeira semanal). Assim que deitei na maca para o Dr. Rogério auscultar
o coraçãozinho do bebê minha barriga endureceu. Ele me disse: “Você está tendo
uma contração!”, e a barriga já havia baixado 1 cm desde a semana anterior.
Eu já vinha sentindo a barriga endurecer há uns 3 dias, mas como não tinha
dor nenhuma e nem outro sinal de TP achamos que eram contrações de Braxton-
Hicks.
Voltamos para Rio Claro e assim que chegamos em casa perdi o tampão.
Falei para o Léo que era melhor deixarmos tudo pronto porque talvez o Leonardo
estivesse querendo chegar. Ele não achava que seria logo, mas mesmo assim
arrumamos tudo. Detalhe: eu não tinha nada pronto. Havíamos pegado o carrinho
e o bebê conforto na loja um dia antes, o kit berço no mesmo dia e as malas ainda
não estavam arrumadas.
Fizemos as malas, ele furou a parede para pendurar os nichos, montou a
cama do quarto do bebê, colocamos o kit berço, limpamos tudo e eu passei uma
montanha de roupas. É impressionante a disposição que a gente tem quando o
parto se aproxima, já tinha ouvido falar, mas não achei que fosse tanto assim.
Fomos dormir por volta de meia-noite. Dormi super bem como de costume,
acordei uma única vez à noite com uma cólica, mas dormi de novo logo depois.
No dia 11/04, quinta-feira, eu entraria as 11:30h no trabalho, e meio sem
acreditar que esse seria o dia, assim que o Léo se levantou para ir trabalhar as
6:30h, me levantei também – já com cólicas leves – e disse a ele que se
melhorasse eu iria trabalhar.
Ele saiu e eu fiquei no sofá, na internet e vendo tv. Logo percebi que as
cólicas iam e vinham e estavam ficando mais fortes e regulares. Comecei então a
contar num aplicativo a duração e intervalo das contrações. Estavam a cada 7
minutos e com duração de mais ou menos 40 segundos, mas ainda bem
suportáveis.
A intensidade das contrações foi aumentando e os intervalos diminuindo,
então vi que o negócio era sério e decidi não ir trabalhar. O Léo veio pra casa na
hora do almoço, preparou a comida e almoçamos. Me perguntou se queria que ele
ficasse ou se poderia voltar a trabalhar. Disse a ele que voltasse, que assim que a
dor ficasse mais forte eu ligaria para irmos pra São Carlos.
Impressionante a minha calma durante o TP, cheguei até a cochilar depois
do almoço, logo eu que sou uma pessoa super ansiosa e controladora com tudo.
Mas eu sabia que deveria deixar meu corpo agir. Durante toda a gravidez eu tinha
consciência de que o trabalho de parto seria doloroso, mas nunca tive medo da
dor. Pra mim o trabalho de parto doeu sim, mas não foi sofrido, foram os
momentos mais intensos e emocionantes que eu já vivi. Como dizem: “A dor é
inevitável, mas o sofrimento é opcional”. A mesma dor que me fazia vocalizar
durante as contrações era a dor que estava trazendo o meu filho pra perto de mim.
Existe dor melhor que essa? É a única dor do bem que teremos na vida.
Fiquei então curtindo as contrações. Ia para o chuveiro quando a dor
apertava, caminhava pela casa, agachava, rebolava e sentia meu corpo trabalhar.
Lá pelas 15:00h liguei para o Léo vir, pois as dores já estavam mais fortes e ainda
tínhamos que ir pra São Carlos. Tomei outro banho, coloquei um vestido levinho e
fiquei esperando ele chegar.
Ele veio num instante, tomou banho, colocou as malas e o bebê conforto no
carro e fomos. Ele estava super nervoso, mas tentava disfarçar para não me
deixar nervosa também. Já eu era um poço de tranqüilidade, me entreguei
totalmente ao trabalho de parto.
O Léo estava pisando fundo e eu pedindo pra ele ir devagar, que daria
tempo de chegar – e também se não desse, o máximo que a gente poderia fazer
era segurar o bebê…hahaha. Pra completar, o sem parar resolveu travar logo no
primeiro pedágio. Ele xingando a mulher que vinha como uma tartaruga para abrir
a cancela e eu rindo do nervosismo dele.
Ele conta que sabia quando vinha uma contração porque eu fechava os
olhos, me encolhia e agarrava no “puta que pariu”…hahaha. E ainda conseguiu
contar o intervalo e a duração das contrações no caminho e ligar para o
consultório do médico avisando que estávamos indo. “Maridoulo” mode on! =) Em cerca de 40 minutos chegamos à maternidade.
O parto
Assim que entramos na maternidade nos levaram para uma salinha ao lado
da recepção para esperar que as enfermeiras viessem avaliar a dilatação. Sentei
numa maca, e o Léo cada vez mais nervoso. Lembro bem da última gargalhada
que dei durante o TP. A recepcionista veio oferecer um copo d’água pra ele e ele
disse: “Moça, meu filho vai nascer aqui e você me oferece água?”. E eu lá
morrendo de rir do nervosismo dele. Assim que as enfermeiras chegaram minha
bolsa rompeu, não senti o “ploct” que todo mundo fala, apenas o líquido clarinho
escorrer.
Subi com as enfermeiras enquanto ele fazia a internação. Fizeram o exame
de toque e eu já estava com 6 cm de dilatação. O Léo subiu rapidamente e fomos
para o quarto em que o Leonardo chegaria.
As enfermeiras foram muito atenciosas e nos deixaram super à vontade.
Ensinaram o Léo a fazer massagem nas minhas costas durante as contrações e
eu fiquei rebolando na bola embaixo do chuveiro. Nesse momento eu já vocalizava
durante as contrações.
Desse ponto em diante as lembranças são vagas. Assim que terminou o
parto eu pensei “acho que não fui pra partolândia”, mas depois que o Léo foi me
contando como as coisas aconteceram percebi que eu viajei pra bem longe.
Tentei depois entrar na piscina, mas como a água do chuveiro estava bem
quente aliviava mais as dores do que na piscina, então voltei pra lá. Lembro de ter
até tonturas de tão quente que a água do chuveiro estava, e afinal já era finalzinho
da tarde e eu só tinha almoçado e tomado um picolé. Trouxeram café da tarde,
mas eu não quis, tentei comer um pedaço de chocolate, mas nada descia. Tomei
apenas um pouquinho de suco gelado.
Aí eu já havia perdido a noção do tempo, não sabia que horas eram, quem
estava no quarto e o que estava acontecendo (e eu ainda achei que não tinha ido
pra partolândia…hahaha). Mas lembro que depois de um tempo as contrações
ficaram grudadas uma na outra, e eu já não tinha mais o intervalo entre elas para
descansar, foi aí que eu quase joguei a toalha.
Mandei chamar o médico, o anestesista, o Papa, qualquer um que me
tirasse àquela dor. Não me recordo bem quanto durou esse surto, mas segundo
meu marido foram cerca de 10 minutos, que depois eu descobri que era a
chamada “fase da transição”, em que o bebê encaixa e está pronto pra nascer. O
Léo foi extremamente importante nesse momento, foi aí que ele me lembrou que
eu tinha sido forte até ali, que estávamos muito perto de realizar nosso sonho, que
a gente havia se preparado muito para passar por tudo aquilo e que estávamos
fazendo o melhor pelo nosso filho.
Então o Dr. Rogério veio com toda a paciência do mundo, e eu doida
pedindo anestesia, cesárea, qualquer coisa…hahaha. Ele me pediu pra sair do
chuveiro e deitar na cama pra que ele pudesse avaliar antes da gente decidir
qualquer coisa. Fez o toque e disse, “Você já dilatou tudo, tô sentindo a cabecinha
e é cabeludo. Vamos tentar mais um pouco?”. Isso me encheu de coragem.
Enquanto ele foi trocar de roupa as enfermeiras arrumaram tudo, e eu já
sentia os puxos. É impressionante a força dos puxos, é incontrolável, instintivo,
meu corpo fazia força sozinho. Li em algum lugar que parir é tão natural quanto
respirar, não é preciso que ninguém nos ensine a parir, o corpo faz tudo sozinho, e
essa é a mais pura verdade. Sentei na banqueta de cócoras com o Léo atrás de
mim e comecei a fazer força.
Dr. Rogério entrou rápido, apagou as luzes e sentou no chão à minha frente
com uma lanterna nas mãos. Uma enfermeira me disse para colocar a mão e
sentir o cabelinho do bebê, e eu senti. Foi aí que pensei: é pra valer, já que
chegamos até aqui vamos até o fim, e conversava com o Leonardo a cada
contração pedindo pra que ele me ajudasse porque a gente ia conseguir.
Mais duas forcinhas e senti o círculo de fogo, não doeu, foi só uma
ardência. Pra mim a pior parte foi a fase da transição, o expulsivo nem doeu tanto
quanto eu imaginava.
Então, na próxima força ele saiu de uma vez só, direto para o meu colo.
Senti o mundo parar à nossa volta. O Léo e eu ríamos e chorávamos ao mesmo
tempo, o abraçamos e beijamos ainda quentinho e lambuzado de vérnix enquanto
todos tiravam fotos. Foi o momento mais sublime que já vivi.
Uns minutos depois o cordão foi cortado e a pediatra me pediu para vê-lo
no berço aquecido ali mesmo do meu lado.
Leonardo nasceu às 37 semanas e 3 dias, com 46 cm e 2840g (só foi
pesado e medido no dia seguinte), as 19:35h de uma quinta-feira de outono, dia
11 de abril de 2013, apgar 10/10, e não sofreu nenhum tipo de intervenção
desnecessária. Não foi esfregado, aspirado, não pingaram colírio e nem foi levado
para longe de mim nem um minuto.
Enquanto a pediatra avaliava deitei na cama para o Dr. Rogério ver como
estava a placenta; como ela já estava solta foi só puxar o cordão e ela saiu
rapidinho. Precisei de apenas dois pontinhos que cicatrizaram super bem e nem
sei mais onde foram dados. Me entregaram o Leonardo e ele foi direto para o
peito, enquanto todo mundo saiu do quarto e ficamos só nós três nos curtindo.
Finalmente éramos uma família, do lado de fora da barriga.
Ligamos para os parentes e amigos para avisar que tinha nascido, e todo
mundo achando que era trote, porque até então ninguém sabia que eu estava em
trabalho de parto e muito menos que ele havia adiantado já que o esperávamos só
pro final do mês.
Depois do parto eu me senti extremamente disposta: levantei, tomei banho
sozinha, fui andando com o Leonardo no colo até o quarto em que ficamos no
outro andar…
Tivemos alta no dia seguinte e assim começou nossa nova vida. Tenho
absoluta certeza de que foi a melhor coisa que fiz na vida, por mim, pelo meu
marido e pelo meu filho; e se necessário faria tudo de novo mil vezes.
Foi, sem sombra de dúvidas, a melhor experiência que já vivi. Não sei como
alguém pode se privar disso por medo da dor ou do que quer que seja. É o
nascimento do seu filho, um momento único pra ele e pra você, faça tudo que for
possível para que sua chegada nesse mundo seja o menos traumática possível.
Agradecimentos
Agradeço a Deus todos os dias por ter tido a benção de ser mãe. Gerar um
bebê e trazê-lo ao mundo da forma mais natural e respeitosa possível é uma
dádiva.
Agradeço também ao Léo, meu marido e companheiro, que esteve do meu
lado em todos os momentos, desde os primeiros exames, consultas, reuniões do
grupo de parto, e que pariu junto comigo. Meu amor, sem você do meu lado nada
disso seria possível. Obrigada por me apoiar sempre e por não me deixar desistir,
e também por ser o melhor pai do mundo para o Leonardo. Temos muito orgulho
de você, papai!
Obrigada a toda a equipe da Casa de Saúde e Maternidade de São Carlos,
que foi de uma sensibilidade e competência únicas; à Dra. Patrícia, pediatra que
respeitou nossas decisões e não fez nenhuma intervenção desnecessária no
Leonardo, e especialmente ao Dr. Rogério, que foi sempre tão atencioso, paciente
e por trazer ao mundo nosso pequeno príncipe.
Obrigada também ao GAPN de São Carlos, às listas de discussão do yahoo
e aos grupos do facebook, que nos trazem tanta informação de qualidade e
mostram que mesmo que tentem nos convencer do contrário, sabemos parir.
Mas o agradecimento principal é para o meu filho, Leonardo, por me
escolher para ser sua mãe e por despertar em mim um amor tão profundo e
avassalador que eu nem sonhava que pudesse existir.


Filho, cada sorriso seu, cada descoberta, cada novo aprendizado faz meu
coração transbordar de amor. Você é nossa razão de viver, e por você tudo nesse mundo vale a pena!




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