Minha história como mãe começou aos dezesseis anos quando me vi grávida da minha primeira filha, uma das primeiras sensações que me invadiu foi o medo, medo do desconhecido, principalmente em relação ao parto, uma vez que aquele bebê estava ali dentro teria que sair de alguma forma. A gravidez e o nascimento em si não eram tão desconhecidos, uma vez que havia acompanhado minha mãe durante a gestação e nascimento de minhas três irmãs mais novas, e graças a isso para mim era certo que minha filha nasceria de parto normal, tinha muito medo da cesárea e pra mim racionalmente o parto normal era o mais óbvio e seguro para mim e meu bebê.
E assim foi. Uns 15 dias antes de a Sarah nascer eu sentia
muito peso e dores na lombar, já sentia algumas contrações e minha mãe disse
que seria bom caminhar e ficar de cócoras, isso me fortaleceria e prepararia
para o trabalho de parto, e assim eu fiz.
Caminhava bastante e andava de cócoras, quando a dor na lombar estava
muito forte minha mãe e minha irmã mais nova faziam massagens para ajudar a
aliviar.
Na noite de 31 de janeiro de 2006 comecei a perder o tampão,
só descobri o que era quando chamei minha mãe no banheiro, e ela disse que era
provável que meu trabalho de parto começasse em breve. Na manhã seguinte quando
fui ao banheiro havia mais tampão, tomei um leite com chocolate e minha mãe
achou melhor irmos até a maternidade para vermos como estavam as coisas.
Chegamos à maternidade umas nove horas da manhã eu acho, fui
submetida ao exame de toque para avaliação, e foi péssimo, muito dolorido,
infelizmente ainda estava com colo muito grosso, posterior e com 2 cm de
dilatação. Isso na verdade queria dizer nada. Mas como estava de 41 semanas e
meia de gestação o médico não me liberou para voltar para casa, disse que iria
me internar para induzir o parto.
Fomos para um quarto da maternidade que era pré-parto e sala
de parto também, tinha banheira e uma cadeira de parto. Foi lá que comecei a
indução com Misoprostol e às 13 horas mais ou menos colocaram o famoso soro (ocitocina
sintética).
Meu trabalho de parto evoluiu muito rápido, embora fosse meu
primeiro filho e estivéssemos induzindo do zero praticamente, mas algo me
incomodava bastante, eu estava com muita fome, só havia tomado um copo de leite
pela manhã e ninguém vinha para liberar um almoço para mim ou algo assim. Minha
mãe estava comigo e quando ela tinha que sair por algum tempo minha prima
Marilda que é enfermeira vinha ficar comigo.
Acho que era umas 15 horas quando desisti de esperar a comida
e resolvi entrar na banheira para dar uma relaxada, me movimentar com o soro
era meio complicado, mas graças as minhas acompanhantes pude me movimentar
bastante, ir ao banheiro diversas vezes e ficar um bom tempo na banheira. Eu me
lembro que de repente minhas contrações começaram a ficar mais fortes e mais
próximas, eu estava na banheira, e minha mãe me trouxe um suco, que não
consegui tomar, pois a dor havia aumentado e me deixado um pouco enjoada.
Na verdade as contrações aumentaram porque minha bolsa havia
rompido e provavelmente o bebê estava mais baixo agora. Eu pedi para sair da
banheira, minha mãe chamou a enfermeira, ela veio junto com uma enfermeira
obstetra que avaliou e disse que já estava quase com dilatação total, logo meu
bebê nasceria, então elas diminuíram a ocitocina e foram embora. É provável que ela tenham colocado algum remédio para dor
no soro, pois entre uma contração e outra, ou seja, um intervalo de menos de 2
minutos eu simplesmente apagava, era como se num minuto eu estivesse em sono
profundo e no minuto seguinte eu estivesse curtindo uma contração “punk”. Eu me
lembro de dizer para minha mãe que não agüentaria, e ela perguntou se eu queria
que me fizessem uma cesárea e eu rapidamente respondi que não, então ela disse
que eu agüentaria.
Nessa altura eu já havia perdido a noção de tempo, não tinha
idéia que horas eram eu sei que ainda estava sol, e era um calor enorme naquele
quarto, quando a enfermeira obstetra voltou, avaliou e pediu para a enfermeira
ajeitar tudo, pois meu bebê já iria nascer.
Dessa parte me lembro bem, eu perguntei para a minha mãe
sobre a anestesia, minha mãe disse que para anestesiar era necessário ir até o
centro cirúrgico e eu disse que não queria sair dali. As enfermeiras prepararam
a cadeira de parto para que eu ficasse em semi-cócoras, para facilitar. A
enfermeira obstetra disse que daria anestesia local para fazer um pequeno
corte, a episiotomia, para “ajudar” o bebê a sair e assim foi feito.
Logo eu estava fazendo
força, uma força que eu jamais teria imaginado que eu tinha se não fosse aquele
momento. Então veio a melhor sensação do mundo, eu sentia minha filha descendo
pelo canal de parto, Janete (a enfermeira obstetra) disse que estava vendo a
cabeça do bebê. Minha mãe e a Marilda também estavam lá, observando, Janete
cortou um cacho de cabelo da Sarah que estava ali, coroada, deu para mim e
disse, vamos lá seu bebê está aqui, só mais um pouco de força e então eu senti
todo o seu corpo saindo, sensação mágica, e lá estava ela, de olhinhos
entreabertos, gorducha.
Hoje eu sei que muitos dos procedimentos pelos quais eu
passei no parto da Sarah foram desnecessários, mas para um parto hospitalar era
o que poderia esperar, as duas coisas que mais me incomodaram não foram
exatamente as intervenções feitas desnecessariamente, mas sim o fato de me
deixarem tanto tempo sem comer, colocando minha saúde e a saúde de meu bebê em
risco, e o fato de eu ter passado tanto tempo lá sem que eles ouvissem o bebê
para saberem se ele estava bem.
O importante é que minha primeira filha havia nascido, cheia
de saúde, a Sarah nasceu no dia 1° de Fevereiro às 17:45 com 3,720 kg, veio
para o meu colo, se aconchegou em meu seio e mamou ali mesmo, na sala de parto.
E eu pude descobrir que era muito forte e capaz de trazer uma vida ao mundo, a
sensação de poder e fortaleza é o que te torna mãe, daquele momento em diante.
Quando a Sarah estava
com 4 anos conheci o André, que em dois anos se tornou meu marido e pai dos
meus filhos. Quinze dias antes de nosso casamento que ocorreu em 10 de novembro
de 2012 descobrimos que eu estava grávida. Foi uma alegria enorme para mim,
André e Sarah, que finalmente ganharia um irmão.
Nós optamos por não saber o sexo do bebê, e decidimos por um
parto domiciliar, uma vez que a experiência de parto que eu havia tido anteriormente
mostrou que o hospital trazia mais problemas do que soluções ao trabalho de
parto. Durante toda a gestação freqüentamos os grupos de gestantes, e agora
minha mãe já atuava como doula há cinco anos e havia me passado bastante
informação. Também pratiquei yoga durante toda a gravidez, foi muito bom para
manter a disposição, aliviou as dores nas costas e na lombar além de aprender a
controlar a dor através da respiração.
A gestação foi muito tranqüila e nós curtimos demais aquele
barrigão e cada momento que passamos. No oitavo mês, estando tudo sob controle
decidimos que nossa equipe de parto seria: as parteiras fantásticas Adriana e
Camila, minha doula Gi do Prado e minha fotografa de parto Mari Zago.
Entrei de férias no início de junho para organizar as coisas
do bebê e os preparativos para o parto domiciliar, pois minha data provável do
parto era três de Julho de 2013. Já tínhamos os nomes, se fosse menino Thomaz e
se fosse menina Marina.
No domingo, dia 30 de junho, André, Sarah e eu fomos até o
Parque do Basalto para fazer uma sessão de fotos da família com a enorme
barriga, que estava prestes a explodir. Andamos bastante pela manhã junto com a
fotografa e fizemos varias fotos. Depois fomos para um almoço e eu comecei a
sentir uma umidade, como estava cansada eu e o André fomos para casa e a Sarah
foi brincar com os primos.
A noite haveria o jogo da final da Copa das Confederações e
nós fomos até a casa do meu avô para buscar a Sarah e assistirmos ao jogo.
Durante o jogo comecei a sentir umas contrações que vinham de dez em dez
minutos mais ou menos. Fiquei tentando me acomodar e respirar fundo durante as
contrações. O jogo terminou e fomos os três para casa, quando cheguei liguei
para minha mãe e disse que estava sentindo contrações de dez em dez minutos, e
ela me disse para tomar um banho demorado e relaxante com o André para que ele
fizesse massagem e que depois eu tentasse dormir.
Foi exatamente o que nós fizemos, fiquei no chuveiro por um
longo tempo sentada na bola de pilates com o André massageando minha lombar,
embora a dor aliviasse as contrações estavam ali. Eu tentei deitar e dormir,
mas não foi possível, as contrações foram ficando cada vez mais próximas e eu
precisava ir o tempo todo ao banheiro. Acho que eram umas 3 horas da manhã
quando disse para o André que queria ligar para minha mãe, as contrações
estavam só aumentando e eu comecei a perder o tampão.
Minha mãe veio para minha casa e o André ligou para a doula,
a fotografa e para as parteiras. O tempo todo eu fiquei com o André no banheiro
e eu estava controlando bem as contrações, estava bem calma e o André estava
ainda mais calmo.
Quando as parteiras chegaram vieram ouvir o bebê e estava
tudo perfeito, embora todos estivessem na minha casa ninguém atrapalhou o nosso
momento, todas elas deixaram que eu e o André ficássemos juntos passando por
cada contração. Então logo pelo inicio da manhã as parteiras vieram para
escutar o bebê e perguntaram se eu não queria sair um pouco do banheiro e ir
para a banqueta de parto, pois elas iriam começar a encher a banheira na sala.
Eu me levantei para ir do banheiro até o quarto, mas senti algo no meio das
minhas pernas. Era a bolsa que já estava descendo, pois eu já estava com
dilatação total. Todos acharam que o bebê já iria nascer, as parteiras pensaram
que nem daria tempo de encher a banheira, mas não foi tão fácil.
Passei a manhã toda com aquela bolsa no meio do caminho, eu
tocava e sentia que atrás da bolsa estava a cabeça do bebê, eu já estava
ficando bem incomodada com aquilo, nessa altura eu já estava na banheira e o André estava comigo, a Sarah já tinha
ficado comigo um pouco no quarto, mas agora já estava em frente de casa com o
meu pai e minhas irmãs. Era hora do almoço quando pedi para a Camila tocar,
quando ela fez o toque a bolsa estourou, mas o bebê não desceu como todos
estávamos esperando. As coisas seguiram do mesmo jeito durante toda tarde.
Eu, minha mãe, a Gi, as parteiras e o André passamos o dia
todo caminhando pelo quintal e tentando fazer o bebê descer, elas pediam para
eu ficar de cócoras, puxar o reboso, bater os pés, enfim, qualquer coisa para
que o bebê pudesse descer. Todo mundo estava se revezando para ficar comigo.
A noite chegou e as contrações já haviam se espaçado e eu não
tinha vontade de fazer força. Decidi entrar no Facebook e avisar as meninas do
grupo de gestantes e do Yoga que estava em trabalho de parto e jantar. Comi
bastante na janta e fui tentar deitar um pouco com o André. A Sarah também foi
dormir.
Mais tarde as parteiras acharam melhor fazer um toque para
verificar o posicionamento do bebê, nesse momento todos nós sabíamos que alguma
coisa não estava certa. Durante o toque a Camila chamou a Adriana e as duas se
entreolharam e percebi que realmente alguma coisa estava errada. Elas disseram que
o bebê estava mal posicionado e que seria melhor nós transferirmos para o
hospital, pois lá poderíamos usar de outros recursos, ou até mesmo recorrer a
uma cesárea se fosse necessário.
Minha mãe entrou em contato com o Dr. Rogério de São Carlos e
ele disse que nos encontraria na maternidade. E assim fomos para São Carlos na
madrugada, eu, André, Camila, Adriana, Gi e Mari, chegamos lá às três horas da
manhã e fazia um frio terrível!
Passei pela triagem e fui para o quarto, o Rogério pediu para
tentar a ocitocina para que as contrações voltassem a efetivar, e como
voltaram. Comecei a chorar, a dor da contração com a ocitocina juntou-se então
com o medo que eu estava de saber que talvez eu não conseguisse parir o meu
segundo filho. Pela manhã eu disse que não queria mais tentar, que estava
esgotada e com muita dor. O Rogério disse para tirar a ocitocina e agüentar
mais um pouco, pois o bebê estava super bem. As parteiras e a Gi continuaram
tentando de tudo para ver se conseguiam mexer na posição do bebê, mas nada do
que nós tentávamos estava ajudando.
Durante todo esse tempo minha bolsa esguichava líquido a cada
contração e depois do horário do almoço o líquido deixou de ser transparente e
inodoro e passou a uma cor um pouco mais escura e um cheiro forte, fiquei
preocupada, a parteira me acalmou dizendo que podia ser um pouco de mecônio,
mas que estava bem diluído, não havia perigo, estavam escutando o bebê o tempo
todo e ele estava ótimo.
Nessa altura eu já estava mais do que exausta, não só eu, mas
todos que estavam comigo. Combinei com o André que esperaria até as 16 horas e
então se nada mudasse iria para a cesárea, mas não agüentei até lá, minha mãe
já havia mandado uma mensagem no celular da Gi dizendo que o que eu escolhesse
seria o melhor para mim e meu bebê. Então às 15 horas pedi para o André chamar
a enfermeira e pedir a cesárea.
Fui chorando para o centro cirúrgico, mas tudo o que eu
queria era ver o meu bebê, pegá-lo no colo. O André ficou comigo o tempo todo
durante a cesárea, a Mari também entrou para fotografar. A cesárea era tão ruim
quanto eu esperava, colocar a sonda sem anestesia e durante uma contração não
foi nada agradável, me lembro de sentir certo alivio após a anestesia, as
contrações se foram, mas agora estava amarrada e sendo submetida a uma cirurgia
de médio porte, para suportar só pensava no meu filho.
A melhor parte foi o ouvir ele chorando e o médico dizendo
“que sacão roxo!”. Sim era um menino, o nosso tão esperado Thomaz. Lindo e
saudável com seus 3,900 Kg, nasceu às 16:10 do dia 02 de Julho de 2013, dez
dias antes do meu aniversário.
A recuperação foi bem pior do que a cesárea em si, mas tudo
vale a pena quando se tem dois filhos lindos e saudáveis!
Aproveito o momento para agradecer a cada um que esteve
presente em meus partos, em especial às parteiras que dedicam suas vidas ao
momento sublime do nascimento, às doulas por ajudarem as mulheres a encontrar
sua força e coragem, a nossa fotografa que registrou momentos indescritíveis e
especialmente a minha família, minha mãe, meus filhos e principalmente ao meu
marido, que esteve muito presente durante todo o nascimento do Thomaz e que me
ajuda na criação de nossos filhos todos os dias com muito carinho.
E assim encerro até aqui minhas histórias de parto e
maternidade, mas ainda não terminou, pois a vida é um ciclo sem fim! Espero que
meus relatos sirvam para inspirar e encorajar as mulheres a buscarem tudo
aquilo que querem e encontrem dentro de si toda a força e poder que existe
dentro delas.
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