Há anos
venho observando atentamente as mulheres que conheço. Dessa observação,
surgiram algumas reflexões que gostaria de partilhar. Não tenho a pretensão de
julgar, mas apenas lançar o meu olhar e minha emoção diante de tudo o que
testemunhei.
Quando minha avó teve seus oito filhos,
o mundo era um lugar diferente, as mulheres não se lançavam em jornadas duplas
de trabalho, e cabia ao homem, sustentar o lar. Depois vieram minha mãe e tias,
era a década de 70 e muitas mulheres já saiam para trabalhar e dividiam os
encargos domésticos. Cresci num lar onde minha mãe abdicou de trilhar o seu
caminho profissional, em prol de criar os filhos e acompanhar as constantes
mudanças de cidade que o trabalho de meu pai nos obrigava a fazer. Não sei se
fomos mais ou menos felizes que outros amigos, mas para nós, a nossa mãe sempre
foi equilíbrio, doçura e presença. Não cabe a mim julgar suas falhas, porque é
claro que todas nós as temos.
Essa experiência me mantinha
constantemente dividida entre crescer e seguir uma carreira, ou ser como a
minha mãe. Para mim era simples assim, uma questão de escolher um, e deixar o
outro.
Quando me casei, ainda com vinte
anos, e já grávida de minha primeira filha, no final da década de 80, todas as
minhas amigas estavam cursando faculdade e dando seus primeiros passos em
carreiras que escolheram livremente. Naquele ano, 1989, eu também havia
escolhido, e estava cursando pedagogia e montando uma escolha maternal,
resultado dos sonhos de quatro anos de curso de Magistério com especialização
em pré-escola. Mas aconteceu uma coisa maior naquele ano, nasceu a minha
primeira filha e eu já não conseguia ter outro sonho senão e de estar com ela
todos os dias.
Em meio a novos caminhos e escolhas,
acabei ficando com cada uma de minhas filhas que foram nascendo, foram quatro.
Mesmo que trabalhasse em pequenos intervalos e cuidasse delas, passei a maior
parte do tempo curtindo a tal da maternidade. Elas cresceram, o tempo passou e
eu não segui nenhuma carreira brilhante. Por mais estranho e chocante que possa
parecer, eu continuava imensamente feliz e não sentia falta disso.
Hoje, filhas criadas, resolvi cuidar
da minha vida profissional, que aconteceu meio sem querer com a chegada da
minha primeira neta. Me tornei Doula, e nesse universo, me encontrei mais ainda
com a mulher e a mãe que pulsavam dentro de mim desde a minha infância.
Tenho trabalhado com mulheres há seis
anos, foram quase cem mães, que vi nascerem diante dos meus olhos e cheguei a
uma conclusão. Ser mãe, gerar, parir e cuidar, são experiências solitárias.
Mesmo diante de um provérbio africano que nos diz que “é preciso uma aldeia
para educar uma criança”. Verifico que somos solitárias em nossas decisões e
escolhas. Somos solitárias, porque existem muitas literaturas a respeito,
muitas linhas de conduta, e nenhuma delas, é a melhor ou a mais eficaz.
Digo isso porque a eficácia da educação
de nossos filhos, só podemos verificar depois que cresceram, e mesmo adotando
as mesmas fórmulas, filhos criados sob o mesmo regime, torna-se pessoas completamente
distintas. Concluo assim que, você não deve se preocupar tanto com esse
bombardeio de informações, e com esses milhares de grupos, reais, ou virtuais,
que nos fazem saltar diariamente de uma escolha à outra.
Não existe a melhor forma de gerar um
bebê, existe a sua forma de gestar. Esqueça os mágicos textos e relatos que nos
mostram a melhor forma de parir, pois a melhor forma de parir, é aquela em que
a mãe se realiza e se sente segura e o filho nasce perfeito e saudável. Você
também não vai encontrar solução mágica para o choro do bebê ou as mamadas.
Simplesmente porque cada binômio mãe e bebê, é único. No quesito educação formal e informal dos
filhos, também somos constantemente seduzidas por velhas e novas teorias. Crie
o seu filho sentindo e desejando fazer o melhor por ele, é isso que ele vai
valorizar amanhã.
Enfim, não existe maternagem perfeita,
a mãe, não é a culpada de tudo. Nem sempre o pai que trabalha demais é ausente,
nem sempre a mãe que não pari é a pior, nem a mãe que pari é a melhor. Será que
toda mãe que não amamenta ama menos o seu filho, ou vice versa? Precisamos
parar, silenciar nosso coração e voltar para a nossa essência. Não existe mãe
perfeita, mas muitas vezes a sua imperfeição, pode ser o que há de melhor no
outro. Seja feliz e seus filhos serão livres, e felizes.
Um comentário:
Cris, por conhecer vc, sua família e sua trajetória, sei o quanto isso é verdadeiro!! Parabéns pela bela reflexão. Bjos
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