Esse texto não pretende falar em valores materiais, nem questionar o que se deve ou não cobrar e qual o valor de cada profissional. É um texto que propõe uma reflexão sobre os custos além do material.
Muitos casais que buscam o grupo, chegam até aqui radiantes com a primeira experiência de maternidade e paternidade, ávidos por saber conhecer as histórias dos que já vivenciaram o assunto e absolutamente confiantes que os profissionais que os atendem, são honestos com relação ao parto.
Quando aqui chegam, logo descobrem que quase todos os casais tiveram que ir para outra cidade para conseguir realizar o sonho do parto natural, ou tiveram seus bebês em casa, uns poucos que se aventuraram a ficar por aqui, ou tiveram uma cesárea indesejada, ou uma experiência não muito boa na maternidade pública.
Começa ai, o alto custo de se ter um parto natural. O casal precisa abrir mão do profissional que os acompanha, ao descobrir que seu índice de cesárea é de quase 100%. Descobrem também, que o hospital onde desejavam ter o bebê, não tem sala de parto, e muitos profissionais são despreparados para o evento. Ficam chocados com a realidade da maternidade pública, que se intitula humanizada, mas que é uma torre de babel, onde cada profissional age de acordo com suas crenças e costumes, ao invés de dar aos casais, a autonomia de parir. Depois de se depararem com essa realidade, eles precisam recomeçar do zero, buscar um novo profissional, na cidade de São Carlos, ou escolher alguma das parteiras que atendem partos domiciliares. Munidos de informações, eles precisam agora, mostrar aos seus familiares, que a escolha que fizeram, é baseada em informações e cuidadosa pesquisa. Depois dessas questões resolvidas, alguns ainda sentem necessidade de contar aos profissionais que os atendiam, que fizeram uma nova escolha, e que o bebê deles, não nascerá em nossa cidade. Esse é mais um momento de tensão, pois onde deveriam encontrar empatia e solidariedade, encontram desrespeito a até mesmo palavras agressivas, isso, dirigido a uma casal cheio de esperança e em busca da melhor forma de nascer para o bebê que vão receber.
Além de serem rechaçados pelos obstetras daqui, eles ainda precisam lidar com a ansiedade, esperar o trabalho de parto começar, e viajar quarenta quilômetros para encontrar o pouso seguro para a chegada do filho tão esperado. Ficar confinada num carro, com contrações a cada dois ou três minutos, não é uma tarefa fácil, pergunto a quem já teve a experiência. Depois de chegar na maternidade, é só esperar a chegada do bebê. Mas esse preço que pagaram e todos o desgaste emocional que tiveram, muitas vezes pode atrapalhar o processo, e mesmo quando os bebês chegam cercados de amor e respeito, ainda tem as famílias, que precisam viajar também quarenta quilômetros, para conhecerem o mais novo rebento da família. Acredito que o preço é muito alto, se pensarmos que ter um bebê poderia ser a coisa mais natural da vida, onde quer que estivéssemos, e que os profissionais do parto, deveria ser facilitadores, e não carrascos. Araraquara não é um motivo de orgulho para nós, profissionais da humanização. Até quando teremos que viajar para parir?
Um comentário:
Até que mulheres e homens se rebelem e parem de ir a estes profissionais enganadores.
Até que aconteçam tantas denúncias que fique impossível não mudar.
Até profissionais conscientes e dispostos a mudar o sistema acima do valor financeiro que receberem aparecerem na cidade.
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