quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Reportagem sobre nosso trabalho no Jornal A Tribuna Impressa

Doulas: as agentes do parto humanizado

Voluntárias, as ‘mulheres que servem’, dão suporte físico e emocional a gestantes


É sempre assim. Depois de 36 semanas de gestação, a mulher grávida vai para o hospital. Chegou a hora do nascimento. Lá, ela tem uma série de especialistas em parto. O médico, que se ocupa com os aspectos técnicos, as enfermeiras obstetras, que passam de leito em leito, atendendo ora uma, ora outra mulher. Também estão lá as auxiliares de enfermagem, atentas para que nada falte ao médico e à enfermeira obstetra. O bebê, depois de nascido, recebe assistência do pediatra. Mas ficou uma lacuna: quem cuida do bem-estar físico e emocional daquela mãe que está dando à luz? Essa lacuna pode e deve ser preenchida pela doula ou acompanhante do parto.

A palavra “doula” vem do grego “mulher que serve”. Nos dias de hoje, é usada para designar mulheres que dão suporte físico e emocional a outras mulheres antes, durante e após o parto. “Faz toda a diferença”, garante a dona de casa Luiza Paim, mãe de dois filhos e que optou por ter uma doula por perto durante a segunda gestação. “A atenção das pessoas, médicos, parentes e amigos, fica voltada para o bebê. É natural. Com as doulas, todo o processo fica mais agradável para a mãe, mais consciente, mais humanizado”, conta.
Em Araraquara, duas doulas trabalham juntas e realizam dois tipos de trabalho voluntário ligados à gestação. Um deles é o Grupo de Apoio a Gestantes, cujos encontros ocorrem na casa de uma das gestantes e, normalmente, os pais também participam. “Reunimos várias grávidas para que elas possam conversar sobre suas dúvidas, suas ansiedades e trocar experiências”, conta Cristiane Raquieli, doula há dois anos.

Saúde da família

O outro trabalho voluntário delas é o acompanhamento de gestantes em unidades de saúde da família. Os postos têm reuniões periódicas com as gestantes e convidam as doulas para que elas transmitam seus conhecimentos sobre o parto humanizado.
Nessas reuniões, as voluntárias também ensinam técnicas de relaxamento e dão orientações sobre como lidar com cada fase da gestação, sempre valorizando o parto natural. “A mulher é fisicamente preparada para parir, mas há um mito que relaciona o parto normal à dor e ao sofrimento. Nosso trabalho é acabar com esse medo”, explica Cristiane. “As dificuldades que as mulheres apresentam para nós nos primeiros encontros são culturais, associando o parto à dor”, concorda Rosangela Carvalho, que também é doula há dois anos.

Vantagens
O trabalho das voluntárias, de acordo com pesquisas realizadas fora do Brasil, reduz o índice de cesáreas, diminui a duração do trabalho de parto e minimiza problemas como depressão e dificuldade de amamentação. “O fato de a criança nascer naturalmente e todo o preparo da mãe no pré-parto, faz com que a criança reaja aos estímulos de maneira diferente também”, diz Cristiane. “Essencialmente porque a mulher está mais confiante”, completa Rosângela.
Estimular o parto natural não é muito comum entre os médicos, que comprovadamente preferem realizar a operação cesariana. Mas as doulas estão conquistando espaço dentro dos hospitais em Araraquara. “É uma coisa que está acontecendo devagar. Mas perto do que tínhamos três anos atrás, já caminhamos bastante”, comemoram.

Raphael Pena

Tags: parto

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