domingo, 31 de outubro de 2010

Para pensar

 
 Ontem tivémos mais um encontro do grupo, e a proposta era falar de aleitamento materno, tirar dúvidas, trocar experiências. Mas eu não quero falar do encontro de ontem, mas da proposta que tínhamos quando criamos o grupo. Há três anos, quando o grupo nasceu, o ideal era o de humanizar o atendimento em nossa cidade, ajudar mulheres que buscassem um parto natural, incentivar a amamentação. Eu achava que isto era bem claro, mas tenho questionado isso. Acho que um grupo de apoio ideal, é aquele em que as pessoas se sintam seguras, e não julgadas ou condenadas. Somos mulheres, humanas e passíveis de erros e fragilidades. Percebo que muitas vezes temos beirado o radicalismo, e isso me incomoda. Quando penso em gestação, penso nas minhas, quando eu alucinava com a idéia de uma vida nova crescendo em minha barriga, e não tinha nenhuma pressa de me separar daquele bebê, talvez isso explique as gestações de mais de 41 semanas, rsrsrsrsrsrs. Quando pari, finalmente, depois de uma cesárea, foi o melhor pra mim, mesmo com todas as dificuldades e intervenções. Mas será assim para todas as mulheres? Acho que humanizar é também e pricipalmente, aceitar as limitações de cada mulher. Há mulheres que desejam cesárea, o que posso dizer pra elas? Posso dizer que estão erradas? Isso é ponto de vista. Defendo o parto normal porque achei importante pra mim e pra minhas filhas, mas e pra quem não acha isso? Tivémos há pouco tempo, uma cesára no grupo, bebê pélvico. Todo mundo pode dizer que ela poderia fazer isso ou aquilo, mas o limite dela, era aquele. Hoje vejo uma mulher feliz, plena e dona de si, nutrindo sua linda filhota. Quando amamentei, também tive medos, angústias, dúvidas e dificuldades. Tudo é culpa da mãe, afinal foi ela que não conseguiu parir, foi ela que não soube amamentar. Será mesmo assim? Não tenho gostado do caminho radical em que estamos nos embrenhando. Não acho que o único tipo de parto aceitável, tenha que ser o domiciliar, pois muitas mulheres estão fora dessa realidade, tanto emocional, como financeiramente. O que nossa cidade oferece hoje? Partos hospitalares com todas as intervenções possíveis. Como podemos exigir o parto ideal? Com relação a amamentação, acontece a mesma coisa. Não temos pediatras que ajudem muito a incentivar o aleitamento, em geral todos entram com a complementação bem precocemente. Muitas mulheres conseguem passar por essa fase, mas ai, tem a volta ao trabalho, e todas as exigências. Ontem no encontro me senti mal. Não era pra ser assim, a mulher não tem que ordenhar o leite e fazer mil malabarismos, se isso não a deixa confortável. Temos sim que seguir nossos instintos, escutar a nossa voz interior, estudar as nossas possibilidades. Para mim não foi confortável a amamentação prolongada, desmamei minhas filhas sim, e dai? Era o meu limite. Não gostava de ordenhar, não via lógica em tirar o leite do meu peito e colocar na mamadeira ou no copo. Dava peito quando estava em casa, alguém dava fruta ou comida quando eu não estava. Industrializar o leite do peito não será uma espécie de neurose? Sabe, acho que a maternidade tem que ser um lugar seguro, um lugar de repouso, de alegria. Pari quando consegui me fazer forte, amamentei quando aprendi a me entregar, coloquei minhas filhas na escola quando percebi que não seria uma mãe pior por isso, mas que a minha sanidade mental e física dependia de momentos meus. Nunca senti culpa por ter amamentado umas mais do que outras, era o meu momento. Não me senti culpada também por colocar na escola a filha maior, pra poder dar mais atenção pra menor. Esse era o meu limite. Hoje, com filhas bem crescidas, sinto que fiz um bom trabalho. Dei a elas todo o amor que eu tinha em mim, e ainda dou. Sou plena, realizada e feliz. quero dizer com isso, que maternidade é instinto, é entranha, é coração. Não dá pra viver na teoria. Seja feliz e seja mãe de coração e alma.

Cristiane

4 comentários:

EmPodere-se! disse...

só inteirando o comentário... o grupo nao julga nem condena, tá? só nos expressamos mal às vezes. bjs.

Isabela disse...

É por isso que eu adoro esse grupo, estão sempre refletindo sobre o que estão fazendo, isso é muito importante porque as vezes as coisas mudam de rumo. Nós mulheres temos a tendencia de ser radical, impacional e sempre nos ssentimos culpadas. Adoro refletir com vcs ...beijos saudades Isabela

Anônimo disse...

Há mais ou menos um ano e meio atrás, minha esposa estava grávida de nosso primeiro filho o João Pedro, e eu como pai sabia que nós apesar dos 30 anos de idade não estávamos preparados para aquela gestação. O que fazer então? Deixar nas mãos dos médicos? Empurrar com a barriga? Deixar toda a responsabilidade pra minha esposa, afinal é ela quem vai parir? Algo me incomodava, sabia que como pais não poderíamos ser passivos ou conformistas, pois perderíamos os melhores momentos de nossas vidas e da vida dos nossos filhos. Não temos família aqui em Araraquara, e nosso medos e inseguranças eram apenas compartilhados entre nós dois, oque alimentava um ciclo de desinformação. Lendo e garimpando informações na internet foi que este blog entrou em nossas vidas, e através dele o grupo de apoio nas pessoas da Rô e da Cris. Até hoje me lembro da cara de esperança de minha esposa quando lemos um artigo que fala sobre doulagem, e depois ela resolveu ligar para a primeira da lista, a Cristiane.
Sei que o João Pedro nasceu forte e corado, como nasceu (apesar da cesárea) porque vocês nos ajudaram a superar, esperar, acreditar e amar: superar nossos medos e inseguranças, esperar o curso normal da gestação, acreditar na fisiologia da mulher e em nós mesmos, e amar não só o João Pedro, uns aos outros.
Obrigado, mais uma vez!
Lucas

Cristiane Tarcinalli Moretto Raquieli disse...

Lucas e Fabiana, obrigada por serem pessoas tão especiais, e que com certeza fazem diferença em nosso mundo. Parabéns pelo desejo de um nascimento melhor e mais uma vez obrigada porque nos deixaram ser parte desse momento mágico.
Cris